11
de novembro de 2014 | N° 17980
DAVID
COIMBRA
12 MINUTOS
Há
7 bilhões de seres humanos respirando debaixo do sol. Outros tantos jazem sob a
terra e multidões incontáveis já não são nem pó, são só lembrança, e muitos,
muitos mais nem lembrança são, nada restou de sua passagem pelo planeta, a não
ser, talvez, uma difusa e anônima herança genética.
É
assim que é. Pessoas que amaram e foram amadas, que odiaram e foram odiadas,
pessoas que sofreram, riram, choraram, viram coisas belas e feias, pessoas que
se achavam importantes, que tinham certeza de que o mundo existia por elas e
para elas, pessoas que fizeram a alegria ou a tristeza de outras pessoas, essas
pessoas simplesmente desapareceram. Não há mais nada delas no mundo, nem jamais
haverá. É como se elas não tivessem existido.
E
não é diferente para a grande maioria dos seres humanos. O destino de quase
todos nós é a escuridão e o esquecimento.
Mas
não o de Alán Ruiz.
Por
causa de 12 minutos, Alán Ruiz inscreveu seu nome na eternidade. Daqui a 50, a cem anos, a posteridade saberá
que, numa tarde de domingo do começo do século 21, Alán Ruiz entrou no campo da
Arena do Grêmio durante um Gre-Nal e, sob a vista de 47 mil torcedores,
driblou, sofreu falta, marcou um gol de cabeça, sofreu mais faltas, brigou,
discutiu, sofreu novas faltas, driblou de novo, chutou, marcou mais um gol,
este com o pé, e comemorou na frente do banco do Inter, e causou grande
confusão, e levou um cartão amarelo, e fez D’Alessandro perder a cabeça, e riu,
e abraçou-se a Luiz Felipe e aos companheiros de time, e foi substituído, por fim.
Tudo
isso aconteceu em 12 minutos.
Em
12 minutos você não vai do Centro ao Sarandi, em 12 minutos você não vê todo um
capítulo de uma série de TV americana, em 12 minutos você não pinta um quadro,
não escreve um livro, nem aprende uma língua nova. Uma árvore leva mais de 12
minutos para crescer e um homem precisa de muito mais do que 12 minutos para
amadurecer.
E
Alán Ruiz só precisou de 12 minutos para inscrever seu nome na História.
Para
sempre, Alán Ruiz. Para sempre.
A
BELEZA DO DRAMA
Nenhuma
seleção feita no Brasil bateria a da Alemanha nas circunstâncias em que foi
disputada aquela semifinal da Copa do Mundo. Porque o futebol brasileiro está
em fase decadente e por causa de todo o clima emocional que o país viveu
durante a competição.
Mas
o resultado normal não seria 7 a
1, como foi. O normal seria qualquer placar modesto, com um ou dois gols de
diferença. O 7 a 1
foi épico e trágico. E, de certa forma, lindo, porque os grandes dramas também
fazem parte da beleza do futebol.
Belas
histórias precisam de dramas, ou não têm a carga emocional suficiente para se
transformarem em belas histórias. E os grandes personagens, os grandes heróis,
têm, necessariamente, de passar por esses dramas. E superá-los.
Luiz
Felipe é um desses personagens heroicos. Se Luiz Felipe não tivesse participado
do drama dos 7 a 1,
não teria voltado ao Grêmio. Se não tivesse voltado ao Grêmio, não teria
participado da histórica goleada no Gre-Nal do último domingo. Essa é a beleza
da história. Essa é a beleza do futebol. A grande tragédia, às vezes, está às
vésperas da glória imortal.