10
de novembro de 2014 | N° 17979
DAVID
COIMBRA
Felipão foi impecável
Felipão
ri, Felipão comemora. Mas Felipão não debocha.
No
dia do seu aniversário de 66 anos, Luiz Felipe Scolari não apenas deu um
presente à torcida do Grêmio: deu uma lição a todos que amam esse esporte tão
repleto de lições, a essa pequena reprodução da vida, que é o futebol.
Fosse
outro, depois do fracasso na Copa do Mundo, teria desistido. Felipão já conquistou
a independência financeira, poderia ter se recolhido com suas glórias tantas
para curtir uma aposentadoria amena em qualquer lugar aprazível do planeta. Poderia
ter se mantido a salvo de cobranças e de desafios perigosos. Mas, não. Felipão
não desistiu. Ao contrário: voltou às suas origens, ao seu clube do coração e,
com paciência e sabedoria, reconstruiu o time e, de certa forma, sua própria
história.
O
Gre-Nal de ontem foi uma vitória perfeita de Felipão. Por várias razões, uma
para cada gol:
1
Acabou com a invencibilidade do Inter em nove clássicos.
2
Venceu um jogo por dois gols de diferença pela primeira vez no Brasileirão.
3
Tomou o lugar do rival na tabela de classificação.
4
Deu a Fábio Koff uma vitória de goleada em seu último Gre-Nal como presidente.
E
mais ainda: Felipão foi impecável. Seu time teve consistência tática e técnica,
dominou quase toda a partida e, na hora de fazer as substituições, ele mostrou
um sangue frio e uma visão de jogo de que só um homem que já viu de tudo na
vida é capaz. Afinal, o Grêmio vencia por 2
a 1, e o Inter tentava atacar. Um técnico que tivesse
vencido menos e perdido menos, um técnico que não tivesse seus cabelos brancos e
seu cartel talvez colocasse um jogador de marcação para se preservar.
Felipão,
não. Felipão colocou Giuliano, um meia ofensivo, no lugar de Ramiro, um volante.
Resultado: Giuliano tomou conta do meio-campo e participou das jogadas dos dois
gols seguintes.
O
outro jogador que Felipão colocou em campo foi o argentino Alán Ruiz, que, em 12
minutos, fez o seguinte: provocou os jogadores do Inter, sofreu faltas,
driblou, chutou, marcou dois gols, gozou do banco colorado, levou um cartão
amarelo e, finalmente, foi retirado de campo pelo treinador e saiu como herói.
O clássico
terminou como um sonho bom para a torcida gremista: com D’Alessandro, aquele
que dizia que nunca havia levado goleada em Gre-Nal, aquele que ria, debochava
e comemorava, com D’Alessandro irritado, esbravejando e reclamando.
Furioso,
D’Alessandro foi brigar com Felipão na área técnica. Mas Felipão não retrucou. Segurou
a cabeça do jogador com ambas as mãos e pediu que ele voltasse a campo. Não
debochou. Mas depois Felipão riu. Depois, Felipão comemorou.