ELIO GASPARI
O lado Steve Jobs de
Dilma
Como
o gênio da Apple, ela opera com um 'campo de distorção da realidade', mas a
conta vai para os outros
Na
sua biografia de Steve Jobs, Walter Isaacson mostra que o gênio da Apple
operava com um "campo de distorção da realidade". Um sujeito trazia
uma ideia, ele dizia que era estupidez e dias depois anunciava que tivera uma
grande ideia, a mesma. Se uma ideia dele acabava em encrenca, era de outro.
Jobs lidava à sua maneira com a verdade.
A
doutora Dilma não é nenhum Jobs, mas confirmou que opera com um campo de
distorção da realidade. Ao mesmo tempo em que seu governo anunciava ter aceito
o pedido de licença de Sérgio Machado, presidente da Transpetro, soltava a
informação de que ele não voltaria ao cargo. Claro, o afastamento do doutor
fora uma exigência da empresa que audita as contas da Petrobras. Desde setembro
sabia-se que ele estava no catálogo de percentagens mostrado pelo "amigo
Paulinho" ao Ministério Público. Em áudio, ele informou que recebera de
Machado um capilé de R$ 500 mil.
É
comum que se disfarcem os defenestramentos de hierarcas, mas a doutora
exagerou. E não foi só nesse caso. Durante os debates da campanha, disse duas
vezes que "Paulinho" foi demitido da diretoria da Petrobras. Falso.
Ele renunciou e foi elogiado pelo ministro Guido Mantega na ata que registrou
seu desligamento.
Dois
outros episódios mostram que a doutora opera temerariamente no campo de
distorção da realidade. Em 2009 o repórter Luiz Maklouf Carvalho revelou que,
apesar de ser apresentada oficialmente como doutora em economia pela Unicamp,
ela nunca recebera o título, pois não concluíra o curso. Em setembro passado
ela repetiu que "fui para a cadeia por crime de opinião". A jovem
Dilma Rousseff foi para a cadeia por ter pertencido a duas organizações envolvidas
em atos terroristas. O Comando de Libertação Nacional, que ajudou a fundar,
dizia em seu programa que "o terrorismo, como execução (nas cidades e nos
campos) dos esbirros da reação, deverá obedecer a um rígido critério
político". (Com esse cuidado, em 1968, antes do AI-5, mataram um major
alemão pensando que fosse um capitão boliviano).
Steve
Jobs adaptava a realidade, mas mexia apenas com os interesses dos acionistas da
Apple. A doutora governa um país de 202 milhões de habitantes.
HOMEM-PAIOL
A
entrada de Augusto Mendonça no plantel de empresários que estão colaborando com
a Viúva nas investigações das petrorroubalheiras pode ultrapassar em
importância a adesão do "amigo Paulinho" e do operador financeiro
Alberto Youssef.
Mendonça
tem mais de vinte anos de experiência no mercado, foi um líder de sua classe e
presidente da Associação Brasileira de Empresas de Construção Naval e Offshore.
Seu
acervo de informações é mais rico que o de "Paulinho" e mais amplo
que o de Youssef.
Se o
Ministério Público tiver interesse, Mendonça poderá mostrar estruturas e
plataformas de negócios que existiam na Petrobras antes da chegada do
comissariado ao poder. Afinal, na Petrobras pode-se demonstrar que Lula se
engana quando diz que o Brasil começou em 2003.
EREMILDO,
O IDIOTA
Eremildo
é um idiota e acha que o ministro Marcelo Nery confundiu-se quando justificou
ideia do Ipea de aguardar o resultado da eleição para revelar um estudo que
apontava para um pequeno aumento do número de miseráveis em Pindorama.
Ele
disse que "a decisão de não divulgar nada no período eleitoral foi tomada
de forma autônoma pela diretoria do Ipea para preservar a instituição".
O
cretino acha que ele queria dizer o seguinte: "A decisão de não divulgar
nada no período eleitoral foi tomada para preservar os diretores da
instituição". (E o doutor Nery.)
BASTARDOS
GLORIOSOS
Para
quem gosta de histórias da Segunda Guerra e de música, está na rede um grande
livro. É "Leningrad: Siege and Symphony" ("Leningrado -- O cerco
e a Sinfonia, a história de uma cidade aterrorizada por Stalin, esfomeada por
Hitler e imortalizada por Shostakovich"). O jornalista inglês Brian
Moynahan fez uma prodigiosa narrativa, contando a vida cultural de uma cidade
sitiada pelo alemães de 1941 a
1944, enquanto o compositor Dmitri Shostakovich compunha sua Sétima Sinfonia, a
"Leningrado". O que aconteceu ali supera Hiroshima, Nagasaki e
Dresden. No dia 9 de agosto de 1942 os alemães estavam a 14 quilômetros , as pessoas
caíam na rua, mortas de fome, e a orquestra da cidade emocionou o mundo tocando
a "Sétima" para uma plateia que não sabia o dia de amanhã. A fome
matara 27 de seus músicos e o trompetista que tocaria um solo teve um edema
pulmonar durante a execução.
Moynahan
conta que em 1941, quando os alemães estavam a poucos quilômetros de Moscou,
eram esperados por uma surpresa. Sabia-se que, entrando na cidade, os generais
de Hitler iriam para o melhor hotel, o Moskva. Certamente visitariam o Kremlin,
gostariam de ver um balé no Bolshoi e, com sorte, confraternizariam com suas
bailarinas. O hotel tinha uma tonelada de explosivos no porão. (A equipe que
colocou as 58 caixas lá foi fuzilada e a carga só foi descoberta em 2005.) Os
palácios e o teatro também explodiriam. Quanto às bailarinas, aprenderam a usar
granadas. Era uma versão realista do "Bastardos Inglórios".
ARMA-SE
UM PINEHIRINHO 2.0
Em
dezembro de 2005 cerca de 100 pessoas invadiram o terreno de uma fábrica
desativada em Guaianases, na periferia de São Paulo. Começou-se a escrever ali
um capítulo da inépcia da máquina do Estado que poderá resultar num novo e
pequeno Pinheirinho, episódio durante o qual a Polícia Militar desalojou cinco
mil pessoas que haviam invadido uma propriedade do empresário Naji Nahas,
destruindo-lhes as casas.
Os
donos do terreno, no exercício do seu direito, requereram a reintegração da
posse. O caso arrastou-se por nove anos. O terreno ocupado é hoje parte do
bairro de Jardim Lourdes, com 160 edificações de alvenaria, comércio e
infraestrutura. A prefeitura demarcou a área como Zona Especial de Interesse e
nela só podem ser construídas habitações populares.
A
Justiça marcou para o próximo dia 25 a
desocupação da área, que resultará no despejo das famílias e na demolição das
casas. Numa fracassada audiência de conciliação, moradores ofereceram-se para
pagar pelo terreno, cujo valor é inferior ao das casas que serão demolidas.
O
poder público não expulsou os invasores, muitos deles venderam os lotes e o
mesmo Estado que custeia o Minha Casa, Minha Vida demolirá seus imóveis.
Expulsos, os moradores ficarão sem teto e entrarão na fila dos programas de
habitações populares. Imagine-se uma hipótese: a família é expulsa, o dono do
terreno faz um conjunto popular e a mesma família vai morar no endereço onde
existia sua casa.