14
de janeiro de 2015 | N° 18042
ECONOMIA
SEM SUBSÍDIOS, LUZ SUBIRÁ
MAIS
SETOR
DE ENERGIA não deverá contar com aportes do governo, e despesa tende a ser
repassada em maior parte para o consumidor. No Estado, tarifaço pode chegar a
55% neste ano
É
bom o consumidor gaúcho calçar sapato com solado de borracha a partir de agora
para receber a conta de luz: a chance de levar um choque é grande. Não bastasse
o início da cobrança da bandeira tarifária a partir de janeiro, que já
representará peso extra na fatura, os usuários devem encarar outros dois
aumentos em 2015.
A
dimensão exata do reajuste ainda não é conhecida, mas especialistas fazem
projeções. Se São Pedro continuar não ajudando e a seca na Região Sudeste
persistir, o tarifaço total pode chegar a 55% para parte dos consumidores
gaúchos, conforme cálculos de Paulo Steele, analista que atuou por cerca de
cinco anos na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no desenvolvimento
do cálculo dos custos para concessionárias e hoje está na consultoria TR
Soluções.
Na
próxima terça-feira, a Aneel abrirá consulta sobre os critérios para a revisão
extraordinária das tarifas, que deve ocorrer em fevereiro. O presidente da
Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson
Leite, disse que o consumidor brasileiro deve sentir no bolso as novas e mais
pesadas tarifas de eletricidade a partir das contas de março.
Conforme
Leite, o ajuste adicional, que também deve ser aprovado em fevereiro, servirá
para que as companhias comecem a recolher dinheiro suficiente para pagar o
aumento no preço da energia de Itaipu – de 46% em razão da alta do dólar.
O
tarifaço, ao que tudo indica, será recorde. É resultado de uma série de
fatores. A falta de chuva tem obrigado as empresas de distribuição a comprar
energia gerada nas termelétricas – muito mais cara – desde 2013 e a conta para
o consumidor continuará a ser repassada agora.
A
entrada em vigor das bandeiras tarifárias, neste mês, já no vermelho, também
pesa. Isso já era esperado por especialistas. A surpresa veio com o anúncio do
Planalto que iria reduzir o tamanho da ajuda para as distribuidoras. Isso abriu
a possibilidade de um tarifaço extra no primeiro semestre, uma maneira de
garantir mais dinheiro para as companhias e evitar uma quebradeira do setor.
– De
modo bastante grosseiro, cada R$ 1 bilhão de aumento de custo das empresas
representa de 0,8% a 1% de aumento na conta para o usuário. Mas isso varia
bastante de região para região. Empresas do Norte e Nordeste recebem mais
ajuda, então pode haver impacto ainda maior – explica o presidente da Abradee.
No
ano passado, o governo federal socorreu as empresas de energia em duas frentes:
aportes do Tesouro Nacional e facilitação para a tomada de empréstimos com os
bancos. A ajuda foi suficiente para equilibrar o caixa das companhias até
outubro, mas faltaram cerca de R$ 2,5 bilhões para cobrir as despesas.
LEVY
DIZ QUE CUSTO DEVE SER PAGO PELO USUÁRIO
O
Planalto vai dar aval para um último empréstimo, mas sinalizou que para 2015
vai suspender o apoio oferecido e que qualquer aumento de custo da energia deve
ser dividido com o consumidor. É o chamado “realismo tarifário”.
O
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicou ontem que o custo é muito pesado
para o governo dentro do atual contexto de ajuste fiscal e que o gasto para
sanar a crise das distribuidoras será bancado pelos consumidores nas contas de
luz.
–
Essa despesa pode, pela previsão legal, ser passada para o contribuinte ou para
o consumidor. É menos eficiente que seja suportada pelo contribuinte – afirmou
Levy.
Na
previsão orçamentária do governo, era estimada ajuda de R$ 9 bilhões para as
empresas. O ministro adiantou ontem que o Tesouro não fará mais o aporte na
Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial que bancou a política
de redução da energia elétrica implementada pela presidente Dilma Rousseff em
janeiro de 2013. Faz dois anos que a CDE, que reúne as receitas e despesas do
setor, vinha recebendo auxílio do Tesouro para bancar os gastos.
Antes
da afirmação do ministro, especialistas entendiam que dificilmente a ajuda
seria retirada integralmente. O mais provável seria que o governo optasse por
emprestar parte dos recursos com a intenção de garantir que não ocorressem
perdas em programas sociais, como o Luz Para Todos.
cadu.caldas@zerohora.com.br