quinta-feira, 1 de janeiro de 2015


kenneth maxwell
01/01/2015  02h00

A caixa de entrada de Dilma

Dilma Rousseff toma posse hoje em seu segundo mandato. O dia deveria ser de comemoração. Ser a primeira mulher eleita –duas vezes– para o mais alto cargo brasileiro é uma façanha notável.

Ela conseguiu grandes realizações em seus primeiros quatro anos, especialmente ao sustentar e ampliar os programas sociais e reduzir a pobreza. A vitória apertada que lhe deu o segundo mandato foi conquistada com base nessas realizações. As atenções vêm se concentrando na formação de seu novo governo, mas existem nuvens ameaçadoras se formando no horizonte.

A caixa de entrada da presidente Dilma está repleta de problemas urgentes, mas não está em seu poder controlar os principais desafios que enfrenta. Tampouco está em poder da classe política brasileira. Nem a presidente nem os demais políticos são capazes de acobertar as consequências dos escândalos de corrupção e propinas que batem à porta do governo, dos políticos e dos facilitadores com quem eles se relacionam.

Por que isso ocorre? Porque os escândalos de corrupção são bipartidários e internacionais em suas ramificações. A Polícia Federal vem investigando o cartel que, entre 1988 e 2008, superfaturou fraudulentamente a construção do Metrô de São Paulo. No período, o Estado foi governado por Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.

Os contratos em questão envolviam grandes empresas estrangeiras, entre elas a alemã Siemens, a francesa Alstom, Bombardier, do Canadá, e Mitsui, do Japão. O pagamento de comissões indevidas foi revelado quando a Siemens admitiu que o cartel havia imposto um sobrepreço de 20% ante o valor cobrado no mercado.

O escândalo da Petrobras é ainda maior em suas ramificações nacionais e internacionais. As propinas supostamente envolvem cerca de 50 políticos. Os promotores públicos brasileiros podem indiciar os envolvidos em breve.

Uma vez mais as dimensões internacionais do escândalo escapam ao sistema político e legal do Brasil. As ações da Petrobras no exterior, bem como as de seus diretores e dos políticos que supervisionam a empresa, estão também sujeitas a leis, regulamentos, processos por prejuízos fraudulentos e a leis estrangeiras de combate à corrupção.

E quanto a Dilma? Uma coisa que pode ser dita com certeza é que ela é notória pela atenção aos detalhes. Ela foi presidente do conselho da Petrobras por uma década. Foi ministra das Minas e Energia. Foi presidente da República nos quatro últimos anos.


Ou ela não sabia o que estava acontecendo sob sua responsabilidade, o que a torna incompetente, ou sabia –o que a torna culpada. É muito difícil extrair qualquer outra conclusão.