rogério
gentile
01/01/2015 02h00
Indicação de ministro foi tramada na
prisão
SÃO
PAULO - O segundo mandato de Dilma começa hoje com um fato bastante inusitado,
mesmo para um país que coleciona episódios surpreendentes como o Brasil. Após a
posse, a presidente assinará a nomeação de um ministro cuja indicação foi
tramada meses atrás, ainda na campanha, numa penitenciária.
Novo
titular dos Transportes, pasta com um orçamento na casa dos R$ 20 bilhões,
Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), o Carlinhos, chega ao cargo por vontade do
mensaleiro Valdemar Costa Neto, o Boy, que até pouco tempo atrás dormia no
Centro de Progressão Penitenciária de Brasília –em novembro, o ex-deputado
ganhou o direito de cumprir em casa o resto de sua pena.
Descontente
com a atuação de César Borges, então ministro, Valdemar pressionou a
presidente, por meio de sua bancada na Câmara, a trocá-lo por Carlinhos ou pelo
deputado Edson Giroto (PR-MS). Como Dilma recusou, ele articulou a divulgação
de um manifesto público do partido pedindo o "Volta, Lula". O texto
dizia que "o momento de crise reivindica (...) o brilho de Lula no comando
da nação".
Dilma
não apenas continuou a bater o pé como passou a chamar Borges publicamente de o
"melhor ministro dos Transportes". O PR, então, começou a negociar o
apoio à candidatura de Aécio. No dia 24 de junho, Carlinhos declarou que Borges
não representava o partido, do qual é secretário-geral. Dilma capitulou e, no
dia seguinte, demitiu "o melhor ministro", com o compromisso de
nomear no segundo mandato o apadrinhado de Valdemar.
O
novo ministro, que entrou na política pelo malufismo e se diz "temperamental"
("Não é fácil trabalhar comigo"), já defendeu o nepotismo ("Contrataria
meus três filhos se eles não estivessem bem empregados"). Carlinhos
costuma citar as lições que aprendeu com o avô: "Ele sempre dizia: 'A
oportunidade é careca, a gente tem de agarrar com as duas mãos [senão escorrega]'".
Dilma que se cuide.