terça-feira, 2 de junho de 2015



02 de junho de 2015 | N° 18181
DAVID COIMBRA

O ódio ao PT


Muitos petistas clamam por amor e tolerância, hoje em dia. Bonito. Amor e tolerância sempre são positivos. Há inclusive um projeto chamado Humaniza Redes tramitando em algum escaninho do Legislativo. Bonito também. Quem pode ser contra a humanização?

Os petistas queixam-se de que existe ódio ao PT, e têm razão. Existe. Noticia-se que a última pesquisa indica menos de 10% de aprovação ao governo. Como já disse, o PT acabou. Se Dilma continuar no partido até lá, o PT chegará a 2018 transformado num partido regional. E, se a eleição fosse daqui a dois anos, arrisco o nome de quem seria eleito presidente: Ronaldo Caiado, um político mais eloquente e mais firme do que Aécio. E mais à direita.

Os petistas, ressentidos, acreditam que a culpada dessa situação é a “sociedade conservadora”, que se deixou seduzir por discursos de intolerância. Curiosamente, a mesma sociedade que elegeu o PT quatro vezes seguidas para a Presidência. Isto é: se os outros não gostam de você, o problema está nos outros, não em você.

Petistas mais práticos avaliam que o PT fracassou porque, uma vez vitorioso, teve de ceder “em nome da governabilidade”, eufemismo para “corrupção para se manter no poder”.

De fato, o Brasil está menos tolerante com a corrupção, mas não é essa a principal causa do desprezo que os brasileiros passaram a sentir pelo PT. A principal causa é a forma como militantes e simpatizantes se comportam com quem, por alguma eventualidade, não concorda com eles.

Se você não segue o óbvio pensamento dito de esquerda, com raciocínios do tipo “pobre é bom, rico é ruim” e outros estereótipos do gênero, você será, pontualmente: homofóbico, elitista, machista, racista e por aí vai.

O que se viu, no Brasil do século 21, foi o estabelecimento de uma certa polícia comportamental. São os vigilantes da moral, os caçadores de preconceitos. Nunca as pessoas foram tão rotuladas no país. Se você não concorda com um militante, ele não diz que vocês têm pontos de vista diferentes, nem mesmo diz que você está enganado: ele diz que você expressa essa opinião, no mínimo, por ter se vendido para as elites. Ou seja: por ser desonesto. Para o esquerdista brasileiro, é impossível que alguém discorde genuinamente do que ele jura ser A Verdade.

Aquela socióloga petista discursa que odeia a classe média, e Lula ouve e ri. Lula avisa que vai convocar o exército do Stédile para atacar a oposição ao PT, e o exército do Stédile vai às ruas e fecha estradas e toma prédios públicos e destrói pesquisas científicas. Agências de guerrilha virtual recebem fortunas para acabar com a reputação de adversários políticos.

Há cerca de oito anos, Diogo Mainardi mal conseguiu falar num evento da PUC, porque esquerdistas gritavam que ele é “traidor da América Latina”. Há cerca de um mês, Eduardo Cunha não conseguiu falar num evento na Assembleia Legislativa, vaiado que foi por quem o chamava de conservador. Marina Silva foi injuriada, caluniada e difamada na eleição.

Onde está a tolerância?

Onde está o amor?


Durante todos esses anos, a classe média, formada quase que totalmente por trabalhadores, foi odiada, rotulada, julgada e condenada por uma suposta elite intelectual de esquerda. Ao proceder assim, essa esquerda jogou o Brasil à direita. A arrogância da esquerda chocou o ovo da serpente e pariu a nova direita. Que já está vicejando e mais ainda vicejará, se não se comportar com igual arrogância. Há motivo para o ódio e a intolerância. Não é caso de política, é caso de física básica. Não é caso da lei brasileira, mas da terceira lei de Newton: não existe ação sem reação.