04
de junho de 2015 | N° 18183
DAVID
COIMBRA
Por que
é importante ser contra o impeachment
Era
contra o impeachment, sou contra o impeachment e agora vou dizer por que você
tem de ser contra o impeachment.
Pelo
seguinte: porque o Brasil não pode mais colocar a justiça acima da lei. Se você
é pai ou se algum dia foi chefe de algo, deve saber que o que mais importa para
as pessoas não são os seus conhecimentos; são os seus critérios. O pior chefe
não é o duro: é aquele que não sabe o que quer. As pessoas ficam sem rumo,
ficam inseguras e, ficando inseguras, ficam infelizes. Um pai é tal e qual. Um
pai precisa ter critérios. Se você diz não e o não vira sim, você perde a
credibilidade.
O
Brasil é o pai fraco, que será desrespeitado pelos filhos; é o chefe bonzinho,
que vira piada entre os subordinados. O Brasil está cheio de leis ótimas que
não são respeitadas. Melhor seria ter leis péssimas que fossem cumpridas.
Há
um filme de Hollywood dirigido por Brian de Palma, um belo filme com um elenco
que ombreia com a Seleção de Tostão, Pelé, Jairzinho e Rivellino: Kevin Costner,
Robert de Niro, Sean Connery e Andy García. É Os Intocáveis, sobre o famoso
agente Eliot Ness, o homem que prendeu Al Capone.
Ness
e seus “intocáveis” lutavam contra as gangues de Chicago que faturavam vendendo
bebidas alcoólicas durante a Lei Seca. Bem. No filme, Ness, representado por
Costner, finalmente captura Al Capone, interpretado por De Niro. Na última
cena, Costner caminha aliviado pela rua, com a aparência de quem sente o dever
cumprido, e um repórter se aproxima para fazer a seguinte pergunta:
– O
que o senhor vai fazer depois que cair a Lei Seca?
Costner-Ness
responde, com um meio sorriso:
–
Tomar um drinque.
Aí
está tudo o que tem de ser dito. Não importa se a lei é boa ou ruim, não
importa se é justa ou injusta, importa é que ela tem de ser cumprida.
A
lei é péssima? Vamos lutar para que seja mudada, mas sempre dentro da lei.
Temos de promover uma revolução no Brasil. Algo inédito, que nunca nenhum grupo
de brasileiros fez: uma revolução de obediência civil. É dessa revolta que
precisamos. A revolta contra quem descumpre a lei.
É
assim que se constrói um país. Porque as fórmulas são muitas, e todas podem dar
certo em determinadas circunstâncias – um país pode ser conservador ou
progressista, liberal ou socialista, estatizante ou privatista, tanto faz. Isso
importa de menos. O que importa de mais é que o acordo seja cumprido.
O
Brasil passou por várias e dolorosas fases, até chegar à conclusão de que quer
ser e é uma democracia. Um presidente eleito legitimamente não pode ser
derrubado porque seu governo é ruim e nem mesmo porque há corrupção entre seus
auxiliares. É preciso haver provas claras de envolvimento pessoal e direto do
presidente em ilícitos graves. Essas provas, pelo menos por enquanto, não
existem. Tem razão quem diz que impeachment, hoje, é golpe.
É.
Se
você é contra esse governo e quer que o Brasil melhore, seja contra a derrubada
desse governo. O Brasil mostrará que é uma democracia madura quando, como um
Eliot Ness, lutar para fazer cumprir uma lei que acha injusta.