30
de julho de 2012 | N° 17146
L. F. VERISSIMO
“Conversation piece”
Esses
americanos... Lá existem o que eles chamam de “conversation pieces”, que vêm a
ser qualquer coisa que sirva para começar uma conversa. Digamos que você vai
receber na sua casa uma pessoa com a qual não tem nenhuma intimidade, afinidade
e, principalmente, assunto.
Para
que a visita não transcorra em constrangedor silêncio, você coloca em cima da
mesa de centro alguma coisa – um livro, uma escultura, uma cabeça mumificada –
que despertará a curiosidade do visitante, que indagará a respeito e lhe
permitirá dissertar sobre o seu significado e sua história. Com sorte, e com um
“conversation piece” bem escolhido, a conversa sobre este tópico único pode
durar a visita inteira e dispensar a busca de outros assuntos.
–
Esse fuzil...
–
Fabricação japonesa. Comprei quando eu estava pensando em me tornar um serial killer.
Depois comecei com as aulas de sapateado e fui para outro caminho, mas o
arsenal ficou. Tenho o porão cheio de armas, se você quiser vê-las depois...
–
Sim, sim. Gostaria. Você parece ter tido uma vida muito interessante.
–
Tive. Tudo começou quando mamãe me colocou na máquina de lavar roupas por
engano, junto com minhas fraldas, e só me retirou no fim do ciclo.
Não
deixa de ser admirável e lamentável ao mesmo tempo uma sociedade tão prática
que prevê o embaraço social e inventa maneiras de evitá-lo e precisa de
acessórios para começar uma conversa.
Correções
O
Sergio Augusto, entre outros, corrigiu minha coluna da quinta passada, quando,
comentando o efeito que o massacre da noite de estreia poderia ter na
bilheteria do novo filme do “Batman”, escrevi sobre um filme maldito de décadas
atrás chamado “Romona”, que supostamente dava azar.
O
filme não se chamava “Romona” e sim “Ramona”. Na mesma coluna, chamei o
Alexander Cockburn de Alexander Woodcock. Pelo menos deixei o cock do homem intacto.
Perdão, leitor. Estou tentando localizar o vazamento de neurônios para
estancá-lo.