11
de agosto de 2013 | N° 17519
PAULO
SANT’ANA
Um ás do texto
Impossivelmente
terá aparecido na imprensa brasileira nos últimos 50 anos um texto mais
brilhante do que o do jornalista J.R. Guzzo. Na revista Veja da última semana,
ele escreveu dois artigos, um dos quais fez tremer os alicerces do Supremo
Tribunal Federal.
Não
sei quem é nem de onde surgiu como uma estrela de rara beleza esse brilhante
brasileiro cujo texto é com certeza mais significativo do que sua própria
biografia.
Sua
clarividência de raciocínio impressiona tanto quanto a fidelidade de sua
escrita às suas ideias. Nele, ao contrário do que na maioria dos ases da
imprensa, o pensamento não esbarra nem tropeça por um só instante no custoso e
espinhoso conduto que desliza do cérebro até o papel.
Ao
contrário, o texto de J.R. Guzzo sai da sua calota craniana iluminado por
tochas que o conduzem fosforescente até o olhar dos leitores de Veja. Só de 50
em 50 anos, aparece um mestre igual na imprensa, superior a David Nasser,
Fernando Sabino, Diogo Mainardi ou Arnaldo Jabor.
J.R.
Guzzo tem brindado os leitores de Veja com um resplandecente cortejo de artigos
de admirável talento. Bebe-se de seu estro jornalístico textos tão saborosos
quanto os melhores vinhos tintos franceses ou brancos alemães.
É impressionante
como ele imprime o vigor de seu estilo à análise dos fatos da realidade
cotidiana brasileira, alcandorando o maior dever do jornalismo, que é casar a
precisão da informação com a indispensável índole de quem escreve em fazer o
leitor pensar.
Chego
a ficar trêmulo de expectativa durante os sete dias que separam os artigos de J.R.
Guzzo entre as revistas semanais. Gozo-os quando os leio e regozo-os à espera
dos outros escritos desse genial repórter.
Lendo
Guzzo, chego a reformular uma antiga convicção que possuo: a de que, acima da
pintura, da música, da escultura, a maior de todas as artes é a oratória. Pois,
lendo-o, passo a eleger a maior de todas as artes, para deleite inefável dos
consumidores dela, a escrita jornalística.
Agora
vamos ao que ele evita fazer, por ser desagradável. Nunca cita autores célebres,
não faz deles muleta para seu ofício.
Todas
as frases que enuncia são de sua autoria, sem necessitar do amparo de citações
famosas. Nunca li dele referências a livros ou filmes que tenha lido ou
assistido, se os usufrui, não se lança a enfadonhos apontamentos de seus títulos.
Nem
de leve é pernóstico, suas análises escorrem em termos simples, embora seu método
de arrazoar contenha sempre o cuidado de ser claro, conciso e com palavras de rígida
adequação.Se não o leem, passem a lê-lo.
Se já
o leem, peço escusas por eu ter enaltecido o óbvio.