INDIGNAÇÃO
Através
deste texto busco manifestar minha indignação em relação ao acidente ocorrido
em 28 de julho de 2013, entre Almirante Tamandaré e Chapada, que envolveu meu
filho Roberto Piva Paim e sua namorada Natália Farinon.
Por
volta das 12.20 horas começou o nosso filme de horror. Ao chegar ao local do
acidente já presenciamos os dois veículos totalmente destruídos; o condutor do
Gol teve morte instantânea e meu filho ficou preso nas ferragens do Peugeot,
estando consciente o tempo todo.
Em
seguida foi acionado o Samu de Chapada e BM. Em 15 minutos, aproximadamente,
chegou a Brigada, e logo depois o Samu com sua equipe de Anjos da Guarda.
Feitos os levantamentos preliminares, a equipe constatou o óbito do condutor do
Gol, e começaram a estabilizar os sinais de meu filho.
Neste
momento é indescritível a dor, o desespero, a impotência de um pai e uma mãe
vendo e assistindo todo este quadro, nada podendo fazer! Dada a violência do
choque, a equipe constatou que as pernas do nosso filho estavam presas nas
ferragens, e, portanto, teríamos que acionar os bombeiros de Carazinho. Nesse
momento começou o nosso maior martírio: Carazinho fica a 40 km de distância, os
bombeiros teriam que se deslocar de caminhão, o que levaria mais tempo. Novo
martírio!
Nosso
filho estava perdendo muito sangue e começou a desestabilizar. A frequência
cardíaca, a pressão arterial estavam descompassadas. A enfermeira do Samu ia
fazendo o que podia. Nestas alturas, já tínhamos acionado o Samu de Carazinho
que orientava, através do rádio, a enfermeira nos procedimentos a tomar. O
médico do Samu de Carazinho, Dr. Vinicius Basegio, fez-se presente nestas
orientações e assumiu os cuidados de socorro ao chegar no local do acidente.
Pois,
sim, passados uns 40 minutos do acidente, chegou o Samu de Carazinho e, junto,
a notícia aterrorizadora de que o caminhão dos bombeiros tinha quebrado no
pedágio de Carazinho, sem condições de prosseguir. Desnecessário expressar o
desespero que Ana e eu passamos.
Para
nossa surpresa, alegria, esperança, meu cunhado Fioravante A. Piva, que estava
no hospital nos aguardando, dada a demora em chegarmos, resolveu se locomover
até o local e, ao chegar ao pedágio, deparou com carro de bombeiros quebrado.
Imediatamente, colocaram o equipamento dos bombeiros no veículo e, com os três
valorosos bombeiros, saíram em disparada para o local do acidente.
Já
se passava uma hora e 20 minutos aproximadamente. Tínhamos tentado arrancar a
porta esquerda do carro para ter acesso ao meu filho. Nas ambulâncias do Samu,
existe um equipamento desmesuradamente poderoso, de última geração e tecnologia
avançada, para acidentes de trânsito:“um pé de cabra” . Esta era a única
ferramenta existente que dispúnhamos no local para desvencilhar meu filho das
ferragens. Chegaram os bombeiros, aproximadamente duas horas depois do
acidente.
Aí,
começou uma luta heroica de três bombeiros. Pessimamente equipados, com ferramentas
obsoletas e sucateadas, iniciaram uma luta que eu jamais havia visto. Com
coragem, audácia e extrema vontade. Parecia que o filho era deles. Escrevendo
agora me ocorre: Pedro Bial chama os patéticos participantes do BBB de “meus
heróis”.
Isto
me enoja, envergonha, pois, o que dizer destes verdadeiros super-homens?
Bombeiros, enfermeiros, médicos. Como escolher um adjetivo para nominar estas
pessoas, quase sempre mal remuneradas, mal equipadas, e que se superam pela
vontade única de “salvar vidas”?
Pois
bem, após duas horas e meia, finalmente nosso filho pôde ser retirado das
ferragens, já com hipotermia, tendo perdido muito sangue, mas rumo ao hospital
para os primeiros socorros.
LIÇÕES
QUE FICAM
1)
As instituições públicas do nosso país estão totalmente falidas e sucateadas, e
nós nada fazemos.
2)
Temos que fazer algo, chega de calar e resignar-se com pouco ou quase nada.
Hoje foi o nosso filho. E amanhã?
3) O
governo fala em importar médicos, isto deve ser brincadeira, vamos sim, importar
caminhões de bombeiros, equipamentos para acidentes de última geração,
ferramentas, para o bom desempenho destes anjos do asfalto. Gente boa nós
temos. Necessitamos dar condições para qualificar o trabalho destes bons
profissionais.
4)
Chega, basta de corrupção! Tanta safadeza, o dinheiro que nos roubam e, nestas
horas que precisamos, faz tanta falta. Quando a dor cala, o desespero nos
consome.
5)
Precisamos de leis mais severas: como pode um condutor de veículos trafegar
mais de dois anos sem CNH? Como pode um veículo ser emplacado por uma pessoa
sem a devida habilitação?
6)
São perguntas sem respostas. Chega de inércia! Vamos reagir, pois, se nos
rebelarmos, algo terá que mudar.
Agradecimentos:
1)
Primeiro aos nossos anjos do asfalto: BM, Samu, bombeiros. Sem eles não sei o
que seria de nosso filho. Aos médicos: Vinicius Basegio, Werner Schambach,
Paulo Catapan, Macedo, que ofereceram os primeiros socorros e o primeiro apoio.
Também aos inúmeros seres humanos que, na madrugada fria, auxiliaram com telefonemas,
força e carinho.
2) O
apoio incondicional de meus irmãos da maçonaria mediante solidariedade, aos
doadores de sangue, na maioria anônimos. Nossa gratidão ao amigo Luciano, ao
nominá-lo faço-o a todos, que, de uma maneira ou outra, estiveram nos apoiando.
Não tem como agradecer a todos nominalmente.
3) O
HCC de Carazinho, pelo pronto atendimento, e ao HSVP, pelo ótimo atendimento, e
aos médicos de Passo Fundo que, com muito esforço, profissionalismo e
dedicação, estão atendendo nosso filho. Por fim, deste acidente resultou:
fraturas expostas do fêmur, fratura na cabeça do fêmur, fratura no cóccix,
fraturas de coluna, fraturas de diversas costelas, lesão na cervical, edema
pulmonar.
É
com meus irmãos que quero compartilhar esta dor que sinto. Esta revolta que não
passa. É grande a impotência que sinto. Sozinho, nada vou mudar neste país.
Nossas autoridades estão pouco ligando para nossos anseios, e nossas
necessidades são prementes de mudanças já.
Finalmente,
em meio a este filme de horror nos momentos mais difíceis, relembro meu filho
Roberto, ainda preso nas ferragens me pedindo: “PAI. ME ABRAÇA FORTE”.
Prontamente o fiz, e ao meu ouvido ele sussurrava:
“PAI.
EU TE AMO TANTO, TANTO, TANTO...”
Eu
também amo muito meu filho. Como todos os pais devem amar seus filhos. E, por
isto mesmo, precisamos lutar pelo futuro destes pais.
Porque
nossos filhos merecem!
Roberto
Paim.”