10
de agosto de 2013 | N° 17518
LONGA
ESPERA PELO SALVAMENTO
Desabafo em 1.017
palavras
Após
ver filho esperar três horas preso às ferragens, agricultor escreve carta sobre
sucateamento dos órgãos de salvamento
Palmas
rompem o silêncio do corredor. O som conduz ao quarto 705 do Hospital São
Vicente de Paulo, em Passo Fundo. Uma mãe às lágrimas vê o filho em pé pela
primeira vez desde um acidente, apoiado pelo pai e por uma fisioterapeuta.
A
alegria da recuperação caminha ao lado da indignação frente ao sucateamento dos
órgãos de salvamento, que o fizeram esperar três horas até ser conduzido a um
hospital. Com as pernas presas às ferragens, Roberto Piva Paim, 31 anos, viu
pela janela amassada do carro o desespero dos pais, impotentes.
Na madrugada
de 28 de julho, Roberto Paim, o pai, de 60 anos, e a mulher, Ilse Ana Piva
Paim, 57 anos, viajavam em uma S10 de Carazinho a Chapada. Eram seguidos pelo
filho, que conduzia um Peugeot, ao lado da namorada. No km 8 da VRS-801, em
Almirante Tamandaré do Sul, o filho viu um Gol andando no meio da pista. Tentou
desviar, mas não evitou a colisão. Na direção do Gol estava Gabriel Douglas
Aires, 20 anos, que morreu no local. O morador de Carazinho não tinha CNH.
Quando
deixou de ver o carro do filho, o pai voltou. Encontrou-o gravemente ferido e
viveu a pior espera de sua vida. Além da falta de equipamentos de resgate do
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os bombeiros que livrariam
Roberto das ferragens tiveram de chegar ao local de carona.
O
caminhão, fabricado há mais de 30 anos, quebrou na estrada. A Polícia Civil
abriu um inquérito para investigar o caso, mas aguarda o resultado das
perícias. A namorada de Roberto sofreu ferimentos leves.
O
acidente foi o único do ano na rodovia, mas suficiente para expor a fragilidade
do sistema. Uma semana após a colisão, o agricultor sentou-se no sofá do quarto
do hospital. Em silêncio, ao lado do filho, escreveu 1.017 palavras para expor
a indignação:
–
Escrevi o que deve estar engasgado em outros pais que perderam filhos na
estrada por demora do socorro.
Na
véspera do Dia dos Pais, ZH reproduz a íntegra da carta, já publicada no Blog
de Rosane de Oliveira.
fernandadacosta@zerohora.com.br