sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Jaime Cimenti

Esse negócio de ser pai

Vamos combinar que esse negócio de ser pai ficou complexo. No tempo das cavernas era tacape, javali morto para o almoço e depois uns desenhos nas paredes. Nos tempos dos reis e das carruagens, o lance der ser pai ficou um pouco mais complicado.

Depois da revolução industrial do século XIX, da revolução sexual dos anos 1960, da pílula e da implantação das modernas ditaduras infanto-juvenis, o negócio de ser pai, decididamente, ficou bem mais complexo. Como fazer para bem obedecer os filhos? Freud, os amigos, os dissidentes e o resto tentaram explicar a coisa. Afinal, no divã as pessoas não ficam falando só na mãe. Pai também é protagonista, por mais que pensem que é só coadjuvante ou só faz pequenos papéis, pontas ou figuração no teatro das famílias.

O “papel masculino” e o “papel do pai” hoje em dia andam meio indefinidos. Estamos aí buscando autores, umas falas, uns figurinos e uns cenários. Sei lá, numa época de seres humanos sem definição de raça (somos raça humana e ponto, disseram os cientistas) e na falta de outras antigas definições, numa época pós-moderninha, sei lá se ainda cabe ficar buscando definições muito definidas.

Não tem receita de bolo, mãe, pai, filho e o que for. Cada um vai se realizando, se inventando, se reinventando e se virando como acha melhor. Cada um pega seus ingredientes e aplica um modo de se fazer, refazer ou desfazer.

Dentro dessa liberdade toda, da qual somos, de certa forma, prisioneiros, acho que o melhor é buscar a sinceridade, a verdade, a espontaneidade, o afeto, a proteção e tentar tocar esta enorme Arca de Noé com a maior harmonia possível, especialmente quando o mar não está para peixe. Dependendo da hora e do dia, o pai tem o direito e talvez o dever de mostrar o que realmente é, o que não é, o que quer e o que não quer.

Respeitadas as características da personalidade de cada um, acho que o melhor para pai, mãe, irmãos, primos, amigos, governos e desgovernos e todos mais é ser simples, verdadeiro, solidário e espontâneo, tipo assim o Papa Francisco. Óbvio que é difícil, que a vida tem muito de fantasia, fingimento, regras, mentiras e convenções sociais. Precisamos disso, até para não ficarmos nos matando demais por aí.

No Dia dos Pais, é pegar leve com o pai, dar ou receber colo. Ou, se não quiser, pense no verso do poeta que agora não lembro o nome: é preciso saber matar o pai. Quer matar o pai? Bom, ao menos mata com amor e carinho. Nada de tiros e pauladas. Será melhor para ti e para ele. Para nós todos. Feliz dia de todos os tipos de pais!

Jaime Cimenti