terça-feira, 25 de março de 2014


25 de março de 2014 | N° 17743
DAVID COIMBRA

A marcha que fracassou

Foi um redondo e liso fiasco a reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, sábado passado. Um punhado de saudosos da ditadura aqui, outro ali.

Ainda bem.

Sou a favor da livre manifestação, mas esses caras pediam intervenção militar. Não dá para levar a sério quem pede intervenção militar. Ou talvez se deva levar a sério, sabe-se lá. Pouco antes da Redentora de 64, Castello Branco dizia e repetia:

– O Brasil não quer quarteladas.

Depois, ele foi o líder da quartelada de 1º de abril e o primeiro ditador de duas décadas de regime militar.

O importante é que as pessoas saibam que o Brasil não tem de escolher entre os Black Blocs e a Marcha da Família com Deus, há muitas opções, além de uma ponta e outra. A vida não é um Gre-Nal.


O pior negócio do mundo

A Petrobras comprou por US$ 1,2 bilhão uma refinaria em Pasadena que, no ano anterior, havia sido vendida por US$ 42 milhões. É como se você fosse pagar 3 milhões de reais por um JK na Azenha.

Próceres do governo garantiram que não houve desonestidade no caso, que foi apenas um mau negócio. Acredito, já disse que sou um crédulo. Mas eu, que não entendo uma única lhufa de refinarias e petróleos, eu que sou tão-somente um modesto contribuinte e um perplexo cidadão, eu fico pensando que os seres humanos que fizeram essa negociação são os piores negociadores da História da Humanidade, desde que o primeiro Homo Sapiens trocou um pernil de bisonte por um renque de bananas.

Se eles realmente são honestos e probos, se realmente são bem-intencionados, e devem ser, são também algumas das pessoas mais burras que já respiraram debaixo do sol.

Depois você se surpreende que as coisas deem errado nas obras da Copa do Mundo.

Os melhores de uma era

Agora, com a reinauguração do Beira-Rio, todos andam escolhendo os melhores times do Inter que já jogaram no estádio e montando seleções com os jogadores que pisaram naquele gramado listrado desde 1969. Só que os melhores times do Inter que já jogaram no Beira-Rio foram um só: o time de 75/76, muitíssimo superior a quaisquer outros. O único time do Inter que rivaliza com aquele é o Rolo Compressor, mas esse era dos anos 1940 e fazia suas artes nos Eucaliptos.

De nenhuma seleção do Beira-Rio podem ficar de fora Manga, Figueroa, Falcão, Paulo César Carpegiani, Valdomiro, Claudiomiro e Lula. Os outros quatro? Cláudio pode ter sido o melhor lateral-direito da história do Inter, mas, sei lá, você pode fazer uma concessão para um Luiz Carlos Winck. Na zaga? Poderia ser o Marinho, mas também há Gamarra, Índio e Mauro Galvão. Na lateral-esquerda? Claudio Mineiro, talvez. E o último, o do meio-campo? Ruben Paz, D’Alessandro, Tinga, Fernandão... À escolha do freguês. Mas também poderia ser um Jair... Aquele Inter de 75/76 era uma seleção.

O bom começo

Desde 2001, desde que Tite engastou o mais harmônico 3-5-2 da história do futebol brasileiro, inspirando a Seleção Brasileira de Felipão que ganhou a Copa no ano seguinte, desde aquela longínqua data o Grêmio não tinha um time de futebol tão escorreito como esse agora de Enderson Moreira.

Quer dizer que o Grêmio de Enderson jogará como jogava o time de Tite?

Quer dizer que conquistará o que o time de Tite conquistou?

Quer dizer que ganhará algum título?

Não. Não quer dizer nem que conseguirá de fato se transformar em um time de futebol competente e minimamente vitorioso.


Está no começo ainda, o time de Enderson. Mas num bom começo.