segunda-feira, 2 de maio de 2016



02 de maio de 2016 | N° 18514 
L. F. VERISSIMO

Miss bumbum

Não é de duvidar que, como tudo hoje em dia, a questão acabe no Supremo Tribunal Federal. Os jornais têm chamado a esposa do atual ministro do Turismo, Alessandro Teixeira, Milena Santos, de “ex-Miss Bumbum “, referindo-se a um título recebido por ela em Miami, em 2013. Nada de errado em ser Miss Bumbum. 

A ex-modelo Milena é bonita, tem um corpo bonito e, a julgar pelas suas fotos publicadas, mereceu o título. Mas sabe-se pouco sobre o título. Ele é conferido todos os anos ou vale, por exemplo, por quatro anos ou mais? Milena é realmente uma ex-Miss Bumbum ou uma Miss Bumbum em exercício, detentora legítima do título até que seja escolhida sua substituta? E como é feita a escolha da Miss Bumbum? 

Há uma votação democrática, é possível reverter a eleição por algum mecanismo legal ou extralegal? Insistindo em chamar Milena de “ex-Miss Bumbum”, a imprensa não estaria se precipitando, temerariamente, inclusive desrespeitando a vontade dos eleitores do bumbum? Alguém pode ser “ex” antes do tempo? Eu gostaria de ouvir a opinião do Gilmar Mendes a respeito.

NOVELEIRO

Amigo meu dizia que seu sonho era pegar uma doença nada grave, mas que o obrigasse a ficar de repouso em casa. Ou então ser preso, também por nada muito grave, mas com a garantia de ter muito tempo ocioso. Tudo para poder terminar de ler o Grande Sertão: Veredas. 

Não se brinca com a saúde, claro, e muito menos com o lamentável sistema carcerário brasileiro, mas entendi o que ele queria dizer. Uma questão de saúde tem me obrigado a ver mais televisão do que eu costumava ver – e o resultado é que virei noveleiro. Eu já tentava ver tudo que o Luiz Fernando Carvalho fazia, e não apenas por solidariedade de xará. O que ele está fazendo no Velho Chico ultrapassa tudo que já fez na TV – com a possível exceção de Os Maias. 

Ele é incapaz de um enquadramento que não seja perfeito, e teve também o talento de escolher um elenco perfeito. Confesso que me atrapalhei um pouco no começo da história. Eu pensava que tudo se passava no século 19 até que apareceu um Aero Willys em cena. E vez que outra surge uma morena nova que ninguém sabe de onde saiu, mas é sempre bem-vinda. E até agora ninguém explicou o guarda-roupa do Antônio Fagundes. Mas fora isso, perfeição.

Depois vem o Liberdade, Liberdade, um folhetim cativante feito com técnica de cinema, e com um cuidado incomum com cada detalhe. E, como no caso do Velho Chico, um elenco extraordinário. Dirigido por Vinicius Coimbra. E esse, de onde saiu?