sexta-feira, 11 de setembro de 2020


DAVID COIMBRA

Deltan Dallagnol é melhor do que "eles"


Na boa. Gosto desta expressão, "na boa". Tem várias acepções interessantes. Com ela, você pode dizer que se sente, mais do que bem, tranquilo: "Como você está?"

"Na boa". Como é bom estar na boa...Mas a expressão também pode significar uma manifestação de inesperada honestidade. Você vai dizer algo que considera muito correto, só que ninguém diz. Por exemplo:

Na boa, o Deltan Dallagnol é melhor do que todos esses que hoje o acossam. Por "melhor", o que quero dizer é que é bem-intencionado. Você não vê malícia nas ações do Deltan Dallagnol. Você pode dizer que ele se envaideceu pela fama que conquistou com a Lava-Jato, pode dizer que, às vezes, se excedeu no que pensava ser sua missão, mas não pode dizer que ele é aquilo que o povo define como, com sabedoria semântica, "uma pessoa do Mal".

Não. Deltan Dallagnol é uma pessoa do Bem. Já o entrevistei algumas vezes, e em todas ele transpareceu sinceridade e até certa ingenuidade. Ele está realmente empenhado no combate à corrupção e acredita em cada palavra do que diz.

Deltan é o típico funcionário público CDF, certinho, comportado. Está sempre bem alinhado, tem sempre as bochechas rosadas e um ar de santarrão. Não seria um grande parceiro para beber uns chopes, até porque talvez nem beba, mas é ótimo para fazer o que faz. Deltan nasceu para ser promotor público.

A propósito: espero que ele não se candidate a nenhum cargo eletivo. É óbvio que todo cidadão tem direito de se alçar à política, não há nada de errado nisso, mas Deltan trincaria o cristal da sua imagem de funcionário correto, se fosse eleito para alguma coisa. Foi o que aconteceu com Moro. Se ele tivesse se mantido na magistratura, estaria a salvo de suas próprias ambições.

Mas Moro provavelmente será candidato à Presidência da República. Ou seja: já perdeu a inocência. Esse é o problema com os políticos: eles sempre guardam uma intenção debaixo da outra. Deltan, pelo menos por enquanto, se mantém o que era no começo da Lava-Jato: um servidor público dedicado, competente, reto, que crê nas instituições pelas quais trabalha. Não estou dizendo que não comete erros. É evidente que comete. Quem não? O que estou dizendo é que ele não merece sofrer os ataques que vem sofrendo.

Deltan se retirou da Lava-Jato para melhor cuidar de sua filhinha, que passa por problemas de saúde. Jura que foi só por esse motivo, mas possivelmente tenha se sentido aliviado por renunciar aos holofotes da força-tarefa, por causa das hienas que o cercam, rosnando e mordendo por todos os lados. É provável que Deltan calcule que o deixarão em paz, agora que recuou um pouco para as sombras. Duvido. O contra-ataque apenas começou. Eles não vão perdoar os que ousaram contestar o seu poder. Eles querem mostrar que são eles que mandam. E, não, eles definitivamente não estão na boa.
DAVID COIMBRA

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