sábado, 12 de dezembro de 2020



12 DE DEZEMBRO DE 2020
CLAUDIA TAJES

Lalá, lalalalá

Lembra daquela musiquinha dos domingos, de um tempo sem celular e outras telas em que o único programa possível era ficar amontoado em família na frente da TV?

Sílvio Santos vem aí, lalá, lalalalá, Sílvio Santos vem aí.

O final do almoço sempre me apertava o coração. Era a certeza de que, lavada a louça, a televisão seria ligada e Sílvio Santos entraria sem cerimônia sala a dentro. As atrações do começo da tarde eram chatíssimas. Ninguém gostava, mas não ocorria desligar ou mudar de canal. Na época pré-controle remoto, o botão seletor parecia emperrado no Programa Sílvio Santos.

Enquanto o pai tirava um cochilo, a mãe e os filhos davam início à maratona. Todo mundo tinha lugar fixo, a força do hábito mais forte que a da gravidade, puxando uma para o seu canto no sofá, outro para a poltrona que deitava ou para a cadeira meio bamba, mas de estimação. Era uma época de aparelhos pequenos, quanto menor, mais nítida a imagem, dizia-se. Os míopes que colassem o nariz na tela.

Tudo começava com um jogo entre estudantes ou um quadro qualquer sobre São Paulo - que nos parecia tão distante quanto a Lua. A coisa só melhorava bem depois, com uma gincana de casais subcélebres e o Qual é a Música? O Show de Calouros sempre ficava pela metade porque, pelas tantas, a mãe mudava de canal.

Era hora do Fantástico.

Até hoje, a música do Fantástico me transporta a matérias assustadoras sobre doenças que eu, com certeza, um dia pegaria, mais o Uri Geller entortando colheres e ainda clipes pré-históricos com os maiores cantores e cantoras do Brasil - que então não me interessavam. Ninguém arredava pé até ser mandando para a cama. Quanta verdade há na frase de Millôr Fernandes: a aventura humana terminou quando a classe média inventou a poltrona.

E eis que, enfim, se revela a razão de Sílvio Santos entrar nessa coluna. É que passei a semana com a música do programa dele na cabeça, mas em uma versão mais atual. E mais esperançosa.

A vacina vem aí, lalá, lalalalá, a vacina vem aí.

O Reino Unido já está vacinando seus cidadãos desde segunda passada. A primeira a receber sua dose da Pfizer/BioNTech foi uma senhora prestes a completar 91 anos, Margaret Kennan, que passou o 2020 inteiro isolada. O segundo a ser imunizado foi, veja só, um cidadão chamado William Shakespeare, de 81 anos. Idosos e profissionais da saúde serão os primeiros vacinados, o que é justíssimo. Agora é esperar que todos os laboratórios disponibilizem suas vacinas para as compras de outros países. E que o Brasil não deixe o negacionismo vencer a saúde, para o mundo voltar o quanto antes para a gente.

A vacina vem aí, lalá, lalalalá, a vacina vem aí.

já que a bandeira é vermelha e aglomerar continua sendo a pior ideia, algumas sugestões de presentes de Natal que é só encomendar e receber no aconchego do lar. As gurias do Projeto Viajando em Casa inventaram caixas com experiências de viagem. Elas montam um kit lúdico e lindo com objetos típicos de um país, e a gente embarca na sala de casa. Informações pelo WhatsApp (51) 99971-2204.

Livros, sempre, e de pequenas livrarias como a Pocket Store, a Baleia, a Taverna, a Bamboletras, a Sapiens, a Erico Verissimo, a Traça, a Londres e muitas outras. Os Supridores, de José Falero, é a história de dois personagens da periferia, empregados de um supermercado, que um dia têm a chance de deixar de ser invisíveis. Segundo Bernardo Carvalho, um dos autores mais importantes do Brasil, "é um romance, único, cômico, sensacional". Pobre Poesia Perdeu a Palavra Nuvem pra Tecnologia, o primeiro livro de hai kais de Marcelo Pires, é leveza inteligente e tem aquele que pode ser o nosso lema para depois da vacina: E no fim/ eles viveram/ felizes para frente.

CLAUDIA TAJES

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