sábado, 12 de agosto de 2023


12 DE AGOSTO DE 2023
CARPINEJAR

Nem todo mundo tem pai

A frequência ao cemitério no Dia dos Pais é muito maior do que no Dia das Mães, mas isso só acontece devido à presença maciça das mulheres lotando o segmento funerário para demonstrar sua saudade. Já a celebração das mães é menor porque os homens cabulam a oferenda e as próprias mães falecidas diminuíram o contingente de visitação.

Eles ainda precisam correr atrás do reconhecimento familiar. Não se abriram o suficiente com o passar das décadas e com a evolução dos costumes. Não choram ou se emocionam quando deveriam. As lágrimas teimosas permanecem presas nos cílios da resiliência.

Não são vistos como imprescindíveis, mas de influência secundária. Existem, mas não se sobressaem.

Tanto que são elogiados quando dividem as tarefas domésticas ou ajudam na criação. Dividir e ajudar são verbos de assistência, ações coadjuvantes de quem não exerce o protagonismo total das suas responsabilidades.

Eu, como pai de um casal de adultos, gostaria que fosse diferente. Uma pesquisa inédita da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL), disposta a rastrear o perfil do consumidor em 2023, reforça o estereótipo.

CDL realizou uma enquete com 695 pessoas na capital gaúcha. Os resultados são desanimadores: 53% dos consultados afirmaram que não irão comemorar ou presentear ninguém no Dia dos Pais. Setenta e sete por cento dos que manifestaram a intenção de celebrar sequer cogitam a possibilidade de ir a um restaurante para pagar a conta e assinalar o momento. Preferem festejos reservados em casa.

Nem todo mundo tem um pai, o cerne da alienação aponta para essa direção. A ausência se faz maior do que o agradecimento. Talvez sejam resquícios fortes de pais que abandonaram os filhos, que nem constam nas certidões de nascimento, ou que se casaram novamente e aboliram o contato com os seus rebentos do romance anterior - achando que são encargos exclusivos da ex, numa distorção de que os filhos não são deles, mas do relacionamento. Ou pior: que foram concessões generosas e provisórias a um sonho feminino.

A data só não é mais desassistida por causa dos maridos, que ocupam 19% dos presentes que seriam dados aos pais. Ou dos papéis indiretos de padrinhos, sobrinhos e netos crescidos, que recebem os outros 20%.

O que explica o tíquete baixo de consumo na faixa dos R$ 100 a R$ 300. Perto da gastança do Dia das Mães, o Dia dos Pais é amigo-secreto. Há gente, inclusive, que se esquece do aniversário coletivo dos pais e toma um susto no decorrer do dia, assim que alguém comenta nas redes sociais.

Pai que é pai mesmo, de modo integral, não é a regra. Percebemos o vazio existencial nos corredores dos shoppings na véspera da data. Não existe aquela loucura de turba nas lojas no segundo final de semana de agosto. Você até encontra vendedores livres para o atendimento, até sobram vagas para estacionar.

O único jeito para combater o simbolismo da função e do cuidado é exercendo uma maior troca presencial, afetiva, corporal, amorosa. É ser mais mãe da sua paternidade.

CARPINEJAR

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