18
de agosto de 2014 | N° 17894
ARTIGO
A INCERTEZA DOS FATOS POLÍTICOS
Os últimos
dias não poderiam ser mais tristes para o país. Basta dizer que se finou um
candidato à Presidência da República. Sem alarde, o governador Eduardo Campos
renunciou ao governo de Pernambuco para concorrer à Presidência e só agora, nas
vésperas de sua morte, duas aparições na TV, em entrevistas demoradas, suas
qualidades se tornaram patentes; a precisão dos conceitos, objetividade e
pertinência, simplicidade e espontaneidade na expressão de seus pensamentos,
mostraram que o finado possuía qualidades para disputar o alto encargo;
Ora,
seu súbito desaparecimento danificou o quadro esboçado visando à renovação
presidencial, e considerando-se sua iminência a mudança ocorrida pode vir a ser
decisiva no tocante à eleição do futuro presidente da República.
Outrossim,
o país tem dúzias de partidos, o que importa em reconhecer que em verdade não
os tem, quando a vida política de uma nação carece deles, não muitos, mas
verdadeiros. Querendo ou não, esta a situação que, bem ou mal, terá de ser
enfrentada em dias senão em horas.
O
quadro existente é de uma candidata a vice-presidente da República cujo
companheiro de chapa à Presidência deixou de existir pela lei da morte. Esta
situação poderá ou deverá ser alterada.
O
caso me faz lembrar o que foi ponderado aos parlamentares que desejavam
aumentar o número de cadeiras na câmara dos comuns, que eram insuficientes, ao
que Churchill observou que, se a maioria comparecesse, alguns ficariam de pé e
o aperto criaria ambiente eletrizado que facilita as decisões. E o recinto dos
comuns, que fora bombardeado, foi refeito como ele era.
Ao
que parece, no entanto, cresce a possibilidade de a candidata a vice-presidente
passar a candidata a presidente e, nas condições atuais, a hipótese poderia ser
benfazeja.
Mais
uma vez, o sistema presidencial, dos prazos fixos e predeterminados, revela
seus inconvenientes, pois os fatos sociais, os políticos em particular, não são
como os siderais, secularmente previsíveis. O país tem dúzias de partidos, o
que importa em reconhecer que em verdade não os tem
Jurista,
ministro aposentado do STF - PAULO BROSSARD