Jaime Cimenti
Dois mundos unidos por um
assassino
O
romance Safári (182 páginas, Rocco), do jornalista e escritor porto-alegrense
Luís Dill, marca sua estreia na conceituada Editora Rocco, casa que há décadas
publica ficção de qualidade. Dill tem mais de 40 livros publicados, e muitas
premiações literárias em seu currículo. Nesta narrativa, com muitos diálogos
vivos, ações e peripécias, o escritor dá mostras de sua maturidade estilística
e domínio de conteúdo. Dill envolve o leitor numa trama de suspense que só se
desfaz no final.
O
atirador desta história tem como alvo traficantes, vagabundos, criminosos,
meliantes e outros tipos. É a fauna perfeita para ele, um predador. Todo safári
tem um lugar para observação da vida selvagem. No livro, não é diferente. As “feras”
estão escondidas nas ruas em zigue-zague e nas moradias irregulares da Vila da
Fumaça, uma comunidade pobre onde funciona um forte ponto de drogas.
A África
imaginária fica na frente do Edifício Excelsior, uma caixa de concreto de seis
andares, que abriga o escritório de advocacia Sándor&Associados. Lá, por trás
do ambiente limpo e iluminado, outra fauna circula em meio a mistérios: advogados
criminalistas que acreditam no perdão dos culpados pelos mais rumorosos casos
da cidade.
Arnaldo
Sándor, sócio majoritário; Delvecchio, o cadeirante irônico; a bela e sensual
Hortênsia; e o charmoso, mas dissimulado Murilo Marques, noivo de Francisca Sándor;
não são o que parecem e estão cheios de segredos. São relações estranhas.
Os
dois mundos que parecem separados para sempre acabam se juntando por conta de
uma série de crimes bárbaros. Balas de grosso calibre, tiros de longa distância,
alta precisão e um animal terreste abatem pessoas como se elas fossem animais
integrantes de um safári. Depois do fogo cruzado, o leitor descobrirá, no
final, a identidade do ousado caçador. Com habilidade, Luís Dill alterna o cenário
dos crimes em série com as reminiscências do assassino. O leitor vai se
esgueirando pelas vielas da Vila e pelos corredores do escritório de advocacia.
Um
inofensivo animal perde a vida em decorrência de um erro do matador e aí os
alvos descobrem quem os persegue e a polícia chega muito próximo da verdade. Como
se vê, Dill oferece aos leitores brasileiros ficção bem elaborada e com
ingredientes bem brasileiros.