CLÓVIS
ROSSI
Morre um líder, nasce um slogan
O "Não
vamos desistir do Brasil" é a frase mais forte surgida até agora em uma
campanha chocha
Eduardo
Campos legou, além de tudo o que se disse dele nestes últimos dias, uma frase
de efeito capaz de eletrizar uma campanha.
Refiro-me,
como é óbvio, ao "Não vamos desistir do Brasil", por ele pronunciada
no final da entrevista ao "Jornal Nacional".
Já havia
me impressionado ao vivo, como um belo achado. E olhe que se algo que não me
comove mais são frases de políticos, de esquerda, de centro, de direita, de
cima, de baixo. Mas essa frase é um achado porque coincide com um sentimento
aparentemente crescente de desânimo não necessariamente com o Brasil mas,
principalmente, com a política convencional.
As
manifestações de junho do ano passado foram uma contundente demonstração de que
a política convencional não dava respostas às demandas da sociedade, tanto que
os partidos políticos foram expulsos delas. Como política ainda é a única
maneira de intermediação entre a sociedade e as instituições incumbidas de
atendê-la, desistir da política de certa forma equivale a desistir do Brasil. Ou,
ao menos, significa desistir das mudanças que sólidas maiorias dizem desejar,
em todas as pesquisas feitas nos 12 meses mais recentes.
É por
isso que o apelo do líder desaparecido soava como perfeitamente oportuno (os críticos
de Campos dirão que é oportunista). Tão oportuno que a família, embebida de política
desde sempre, e seus correligionários não perderam tempo em pintar a frase em
camisetas e faixas, inclusive na que aparecia com destaque em um dos lados do
carro do Corpo de Bombeiros que levava o caixão até o cemitério de Santo Amaro.
Para que a frase tenha consequências no panorama eleitoral, no entanto, é preciso
que seja encampada por Marina Silva, assim que ela assumir a candidatura
presidencial. Seria inconcebível que outros candidatos a usassem.
Mas
tem-se aí um sério problema para a ex-senadora. Para que seja efetiva como
instrumento eleitoral, é preciso que a frase seja teatralizada durante a
campanha. Não, não estou defendendo a teatralização da política. Sou contra,
mas não adianta: desde sempre, o teatro é parte relevante das campanhas
eleitorais, às vezes a parte decisiva.
Vide
o caso Fernando Collor de Mello, que carnavalizou o rótulo de "caçador de
marajás" e ganhou a eleição, apesar de seu teatro não passar de grosseira
empulhação. Marina não tem nem o cacoete nem o "physique du rôle" para
teatralizar uma frase forte como essa. Aliás nem Dilma Rousseff nem Aécio Neves
têm um ou o outro. Luiz Inácio Lula da Silva teria, se fosse candidato (não, não
estou defendendo a candidatura Lula; apenas constato fatos).
De
todo modo, a pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira (18) demonstra
que Marina não precisa de uma frase de efeito para ser candidata competitiva. Mas
é possível que suas intenções de voto estejam anabolizadas pela comoção
provocada pela morte de Eduardo Campos.
A
frase do líder morto talvez permita, se bem usada, trocar comoção por emoção em
uma campanha até aqui bastante chocha.
crossi@uol.com.br