sábado, 23 de agosto de 2014


24 de agosto de 2014 | N° 17901
CÓDIGO DAVID | David Coimbra

As brasileiras nos EUA

É fácil reconhecer uma brasileira andando pelas ruas arborizadas da Nova Inglaterra. Não, não é por sua beleza miscigenada, ou pelo jeito maroto de mexer os quadris, nem pela sua manemolência típica dos trópicos, ou pela cor do pecado que faz tão bem.

É pelo salto alto.

As mulheres aqui não usam salto alto. Você vê uma mulher com os calcanhares a seis centímetros do solo: brasileira. É certo.

Outra coisa: ao contrário da lenda, elas são bonitas, as americanas. E não são todas loiras com peitos do tamanho de bolas de futsal e bundas com formato de CDs. Não. São mulheres não raro curvilíneas, em geral magras, afeitas ao exercício físico, mas que se vestem com simplicidade surpreendente – sapatos de solado baixo, calças largas, camisetas despretensiosas. As mulheres brasileiras só se vestem assim quando estão em casa, no dia da faxina.

E tem mais: as americanas não sensualizam na hora de caminhar. Elas não rebolam! O que me forneceu uma informação a respeito DAS BRASILEIRAS: elas APRENDEM a rebolar. São treinadas para isso. Adrede preparadas. Quer dizer: é algo premeditado. Em que momento da vida essa transformação acontece? Será que são as mães que as ensinam? “Agora, minha filha, joga essa anca pra lá e a outra pra cá. Assim, assim... Suingue, entende? Ginga. Esquindolelê. Esquindolalá. Ziriguidum, minha filha. Ziriguidum. Isso!”

GISELE NAS PRAÇAS

Gisele Bündchen vive em Boston. Ela está sempre correndo nos parques da cidade com aquelas suas pernas compridas e douradas, e volta e meia é encontrada brincando com uma ninhada de crianças nas praças à margem do Charles River. Ou seja: o creme, a crocância, o suflê da beleza feminina mundial passeia por aqui.

Já falei com vários americanos que a viram, mas nenhum deles se referiu à beleza dela. Eles sempre falam NO MARIDO da Gisele, Tom Brady, astro do futebol americano, camisa 12 do New England Patriots.

Pode isso? Não dá para entender esses americanos.

PELADAS NOS PARQUES

Outro dia, eu estava em um parque e vi que lá adiante chegou um casal de carro. Eles tiraram do porta-malas um guarda- sol, duas cadeirinhas de alumínio e uma grande sacola de vime. Caminharam até o centro do gramado. Lá, o homem fincou o guarda-sol no solo, entre as folhas de grama, e armou as cadeirinhas. Enquanto isso, a mulher ia se despindo: tirou a blusa, tirou o short, tirou as sandálias, ficou só de biquíni, deitou-se numa canga e pôs-se a sorver o sol. O homem sentou-se sob a sombra, abriu o Boston Globe e começou a ler o Wianey Carlet deles, falando dos Red Sox.

Pena que não tinha um oceaninho por perto. Que falta faz um oceaninho de vez em quando.

Elas fazem isso, essas americanas. Você está andando na cidade, caminhando por uma praça cheia de crianças gritando coisas em inglês, e ali adiante, num naco de grama, há uma mulher estendida, de biquíni, em geral lendo um livro. Não estou falando de parques; estou falando de praças mesmo, no meio de quadras movimentadas. Tudo muito natural. E é mesmo, não é.

Mulheres seminuas nas praças, pode. Homens bebendo vestidos, não pode.

Todo mundo faz piquenique nas praças e nos parques, em Boston. Agora mesmo, na semana passada, eu e a Marcinha convidamos o meu médico, André Fay, e a namorada dele, Gabriela, que também é médica, para comemorar o aniversário do meu filho fazendo piquenique num parque.

Preparei alguns dos meus famosos cachorros-quentes, muito superiores a esses hot dogs daqui, que nesses hot dogs daqui, acredite!, não vai mostarda nem queijo ralado, só ketchup vulgar e cebola cozida, pois preparei o meu cachorro-quente com o molho especial e secreto que só eu sei fazer e que revolucionaria a culinária norte-americana, se o apresentasse aos ianques, porque meu cachorro-quente, quem provou sabe, rivaliza com o cachorro-quente do Rosário, que saudade do cachorro-quente do Rosário, então, como dizia, preparei meus cachorros- quentes coruscantes e fomos para o parque.

Mas nada de uma boa garrafa de tinto, como fazem os parisienses e o meu amigo Dinho na Pont des Arts; nada de canecos de chope, como fazem os alemães nos calçadões de Königstein; nada de sangria gelada, como fazem os espanhóis de Salamanca nas plazas mayores. Nada disso. Álcool é proibido na rua, dá polícia e tudo mais. Então, Coca-Cola, suco, água de coco. E paciência.

Bem, talvez eles estejam certos. Talvez mulheres seminuas e homens vestidos bebendo na mesma praça não fosse uma boa combinação.


Ou talvez fosse ótima. Não sei. Não dá para entender esses americanos.