19
de agosto de 2014 | N° 17895
LUIZ PAULO VASCONCELLOS
O 21º PORTO ALEGRE EM CENA
Não
existe bom teatro sem uma boa dramaturgia, bons atores e bom público. Ou seja,
não existe bom teatro sem um bom debate em torno de algo que nos emocione e nos
estimule a pensar. Não existe bom teatro sem aqueles instrumentos que emprestam
seus corpos, caras e vozes a pessoas que nunca existiram na realidade, mas que,
transformados pela poesia em personagens, passam a existir com muito mais
autenticidade que qualquer outro mortal que já tenha passado por aqui. Querem
um exemplo? O Hamlet, de Shakespeare.
Que
nunca existiu na realidade mas que até hoje representa a maior dúvida que todo
ser humano carrega consigo, aquela que nem Freud, Marx ou Einstein conseguiram
responder: ser ou não ser? E, finalmente, não existe bom teatro sem bons
espectadores, aquela montoeira de gente quietinha ali no escuro da plateia, às
vezes rindo, às vezes segurando o choro, infelizmente às vezes atendendo o
celular, mas sempre absorvendo corpo e movimento, ação, conflito, impasse e
solução que a peça teatral propõe. Pois tudo isso – e mais algumas coisas – é o
que o Porto Alegre Em Cena oferece a nós gaúchos: Teatro. Bom Teatro. Com T maiúsculo.
Digam-me,
estimados leitores, que outra cidade de todas as Américas teve a chance de
assistir a espetáculos dirigidos por Peter Brook, Bob Wilson, Eimuntas
Nekrosius, Antunes Filho, Patrice Chéreau, grupos como o Berliner Ensemble, o
Tanztheater Wuppertal, de Pina Bausch, o Théâtre du Soleil, de Ariane
Mnouchkine, o Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Corrêa, músicos como Philip
Glass, Goran Bregovic, os melhores atores e atrizes, bailarinos e bailarinas,
cantores e cantoras e muito mais nesses últimos 20 anos?
Podem
ter certeza, só Porto Alegre. Sempre na primeira quinzena de setembro, nas
melhores salas de espetáculos que a cidade tem, e a preços populares, graças
aos patrocínios e apoios financeiros de empresas que já viraram emblemas do
festival. O autor disso tudo? Luciano Alabarse, diretor e produtor, mas que se
notabilizou pelo senso diplomático, por tenacidade, obstinação e sensibilidade
na curadoria do festival.
E
assim os nossos artistas e o nosso público, ao terem a chance de assistir ao
que há de melhor no mundo, vão tendo a chance de ir melhorando, aprimorando,
purificando, superando as etapas difíceis da profissão e da diversão, inclusive
aquela básica e funesta dos caranguejos.