segunda-feira, 18 de agosto de 2014


18 de agosto de 2014 | N° 17894
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA

COMO ERA LINDA A MINHA BOMBA

A II Guerra Mundial teve muitas consequências, e uma das maiores foi a transformação dos Estados Unidos em superpotência global. Até ali, guerra era algo manual, mecânico ou químico. Uma bomba era algo que, ao explodir, tinha a decência de respeitar a lei da conservação das massas de Lavoisier. As mesmas moléculas do começo da história estavam lá no fim, mesmo que bem mais espalhadas por todo lado.

Uma bomba atômica opera no território assustador da física nuclear e converte em realidade prática a famosa equação de Einstein, aquela do E=mc2. Massa, mesmo pouca, que some e se transforma em energia ao se multiplicar pela velocidade da luz ao quadrado, vira energia que não acaba mais. E foi o que os americanos decidiram fazer, e fizeram, e isto no tempo da válvula e da régua de cálculo.

Manhattan mostra esta saga, a de milhares de pessoas levadas para o meio de um deserto, sem saber o que iriam fazer lá, mas sabendo que era coisa do capeta. A maior concentração de físicos do mundo, trabalhando duramente e gastando uma fortuna para a época, sem saber se iria dar certo, mas torcendo para chegarem lá antes de Hitler. Lembrando que os alemães tinham foguetes balísticos, os V-2. Se tivessem a bomba e pudessem jogá-la onde quisessem, babaus.

Essa enorme história é o enredo de Manhattan, e mais do que justifica que todo mundo cancele o que tiver para fazer e dê um jeito de assistir. O Projeto Manhattan não foi criado para ser dramaturgia, mas sim para destruir em uma escala nunca dantes navegada. A bomba foi criada, lançada, e efetivamente terminou com aquela guerra e nunca mais foi usada. Ainda.

O mundo que ela criou é este aqui, e existem Doutores Strangelove suficientes por aí para a gente lembrar que estabilidade não é exatamente o forte da Era Nuclear. Como é nele que vivemos, melhor ver Manhattan para saber como chegamos até ele, já que sair dele tem se mostrado muito, mas muito mais difícil do que sonhavam os cientistas e seus desejos de um mundo sem guerras. Vejam.

zhora.co/marcelocarneirocunha


O colunista escreve semanalmente no 2º Caderno