sábado, 23 de agosto de 2014


23 de agosto de 2014 | N° 17900
 NÍLSON SOUZA

A TEORIA DE TUDO

Essa onda de despejar baldes de gelo na própria cabeça começou com um propósito meritório, a arrecadação de fundos para a pesquisa que busca a cura para a ELA, a esclerose lateral amiotrófica – uma doença degenerativa que provoca atrofia muscular, mas deixa a capacidade intelectual e cognitiva do paciente praticamente intacta. O mais famoso portador dessa enfermidade é o físico britânico Stephen Hawking, autor de Uma Breve História do Tempo.

Ele já superou todos os prognósticos médicos e, apesar das limitações motoras, continua ativo com mais de 70 anos. Sua vida é o tema de um longa-metragem programado para janeiro de 2015, que se chamará exatamente A Teoria de Tudo – uma história de superação humana e de teses sobre o princípio e o fim do Universo.

O cinema já mostrou algo parecido no filme O Meu Pé Esquerdo, que deu o Oscar para Daniel Day-Lewis pela impressionante interpretação do escritor e artista plástico irlandês Christy Brown. Com restrições físicas resultantes de uma paralisia cerebral de nascença, ele conseguia movimentar apenas o pé esquerdo, o que não o impediu de superar obstáculos, preconceitos e problemas familiares, tornando-se o mais produtivo dos 13 irmãos. É, também, uma história espetacular, que impõe reflexão e conscientização sobre pessoas com deficiência.

Em tempos de exibicionismo explícito e de selfie em velório, personagens como Hawking e Brown sempre nos ajudam a retornar à vida real, que tem como protagonistas outras pessoas além dessa gente famosa, bonita e saudável que se diverte com os banhos de gelo. Os doentes célebres representam uma população invisível de indivíduos que passam a vida dependendo de ajuda para sobreviver, muitas vezes sem recursos para um tratamento que ao menos lhes alivie os sofrimentos.

Para compensar essa injustiça biológica, existem anjos no mundo. Não, não me refiro a criaturas com asas e auréolas, criadas pela imaginação humana. Falo de pessoas de carne e osso, de pais e mães que dedicam suas vidas aos filhos especiais, dos atendentes de asilos e hospitais, dos cientistas que buscam incessantemente remédios para a cura de doenças, de uma multidão de anônimos que trabalha para atenuar a dor alheia.

Acredito firmemente que algum tipo de felicidade suprema deve estar reservado a essas almas puras.


Esta é a minha contribuição para a teoria de tudo.