ELIANE
CANTANHÊDE
Itamarina
BRASÍLIA
- Pensando bem, há semelhanças entre Marina Silva e Itamar Franco, que,
contrariando expectativas, se tornou o homem certo na hora certa. Não só Deus,
também a história e a política muitas vezes escrevem certo por linhas tortas.
Marina
tem voto, Itamar não tinha, mas os dois eram vices e tiveram sua grande chance
na vida por um golpe do destino. Marina foi alçada à cabeça de chapa por uma
fatalidade, a morte de Eduardo Campos. Itamar chegou à Presidência pelo
imponderável, o impeachment de Fernando Collor.
Sem
um partido para chamar de seu, Marina pulou no barco do PSB, mas não no avião
que matou Campos. "Foi a providência divina", justificou, reforçando
o que seus companheiros acrianos mais criticam nela: a arrogância de se sentir
"predestinada", enquanto constrói sua imagem em cima do oposto: a
humildade.
Sem
se impor no velho PMDB e no mundo político tradicional, Itamar pulou no PRN,
mas caiu fora quando o Titanic afundou.
Antes
de Collor ir a pique, as forças políticas jogaram uma boia para Itamar.
Engoliram divergências e ambições imediatas, unificaram o discurso da
governabilidade e fecharam um cerco para dar sustentação à transição com
Itamar. Só um partido optou pelo seu próprio projeto, em detrimento do esforço
geral: o PT. Que o diga Luiza Erundina, hoje no topo da campanha de Marina.
Virou ministra de Itamar e foi banida do ambiente petista.
Ao
abrir mão da reeleição, Marina faz um chamamento aos partidos. Caso derrote
Aécio no primeiro turno e Dilma no segundo, ela será a única presidente, desde
Itamar, em condições de convocar um pacto nacional com as principais forças
políticas do país. Particularmente com o PSDB, já que o PT vive de apoios, mas
não apoia o outro.
O
PSDB precisaria de Marina no segundo turno, mas ela dependeria do PSDB também
para governar. Quase tanto quanto Itamar dependeu.