25
de agosto de 2014 | N° 17902
L.
F. VERISSIMO
A nem tão nova
Seleção
É
difícil dizer por quanto tempo o 7 a
1 envenenará nossa memória coletiva como um rato morto no poço. O trauma da
derrota para o Uruguai em 50 tinha se diluído no tempo, e só a vaga
possibilidade de a final da Copa de 2014 repetir a final de 50 justificava que
fosse lembrado. A derrota de 50 ficou atravessada na garganta de uma geração,
mas foi finalmente engolida e mais ou menos digerida. Aí veio o 7 a 1. Quanto tempo levaremos para
engolir o 7 a 1?
Quantas gerações?
Eu
decidi fazer minha paz em separado com o 7
a 1. Me consolei com o seguinte raciocínio, meio desesperado:
o 7 a 1 foi uma
aberração. Nenhuma lógica o explica, nenhuma explicação resiste à razão. E é
impossível construir qualquer coisa em cima de uma aberração. Teses não ficam
de pé, conclusões desmoronam, até a indignação afunda. Se o resultado final
fosse, digamos, Alemanha 3, Brasil 0, seria um vexame com significado.
Um
vexame aproveitável, uma lição, um castigo pelos nossos pecados, começando pelo
da soberba. O 7 a 1
não significou nada. O 7 a
1 não existiu. Ou existiu num universo à parte, só dele. A CBF deveria pedir a
anulação do jogo e sua repetição, desta vez no mundo real, onde há lógica e as
coisas costumam ter sentido.
Pela
sua convocação para a nova Seleção não dá para ver se o Dunga concorda que é
melhor fingir que o 7 a
1 não houve ou se achou melhor partir do 7
a 1 e das culpas pelo 7 a 1. Da Seleção do Felipão foram
chamados dez. Supõe-se que os treze que sobraram foram considerados mais
culpados pelo desastre do que os chamados, ou ficaram mais identificados com o
fracasso. A não convocação do Marcelo e a reconvocação do Hulk e do Ramires
desmentem essa impressão. Marcelo foi um dos que se salvaram do naufrágio, e
Hulk e Ramires, dois dos que afundaram mais notoriamente.
David
Luiz era uma unanimidade, e ninguém nega seu valor, mas revelou ser o que no
meu tempo se chamava de “peladeiro”, aquele zagueiro que, por impaciência ou
imprudência, desguarnece seu time e se lança à frente o tempo todo. E naqueles
seis minutos em que a Alemanha marcou quatro, ele e o Dante certamente não estavam
onde deveriam estar. Mas imagino que David Luiz será o capitão da nova Seleção
como foi do Felipão. Um sinal de que Dunga não ignorou o 7 a 1 e quer um grupo dividido entre
culpados perdoados e inocentes.