24
de agosto de 2014 | N° 17901
PAULO
FAGUNDES VISENTINI
Coreia do Norte, um planeta
desconhecido
Nem
tudo é apenas o que aparenta ser, e toda realidade possui várias facetas.
Assim, há uma Coreia do Norte (CN) conhecida entre nós de forma caricatural:
Parque Jurássico do Stalinismo e regime fechado, à beira do colapso, dinástico
e irracional, oprimindo um povo faminto. Todavia, estudado em profundidade e/ou
visto por dentro, o Estado eremita surpreende e impacta.
Um
recente encarte turístico do jornal China Daily, de Pequim, convida o leitor:
“Visite a CN e conheça o passado”. Em parte, pois sua urbanidade combina
prédios residenciais de estilo soviético (construídos logo após a Guerra de
1950 – 1953) com um futurismo arrojado, de ficção científica: arranha-céus
ultramodernos e praças, monumentos e avenidas amplas, limpas e imponentes.
Pyongyang é uma cidade ímpar, na época da mesmice da globalização.
Os
anos 1990 foram os da Penosa Marcha, com o fim da URSS (e da ajuda econômica),
a China cobrando em dólar, a morte do líder fundador Kim Il Sung e uma
sequência de secas e enchentes gerando fome e morte. Mas durante a presidência
Clinton e a de um moderado na Coreia do Sul, houve diálogo e distensão. Hoje,
com um governo conservador no Sul e as manobras militares norte-americanas,
voltou o jogo calculado do Ocidente, que produz crises militares e ameaças
nucleares (último recurso de dissuasão do acuado regime do Norte).
A
economia da CN voltou a crescer há uma década (com avanços e recuos de mercados
privados) e, apesar das aparências, o jovem dirigente Kim Jong Un tenta moderar
o poder do exército (mas modernizá-lo como força de dissuasão) em relação ao do
Partido (civis) e está melhorando a qualidade de vida da população. Na Zona
Especial de Kaesong voltam a operar joint-ventures entre empresas estatais do
Norte e privadas do Sul. No extremo norte, foi criada a Zona de Ranjin, com um
moderno porto conectado ao nordeste da China e à Rússia, que abriga empresas de
vários países. E cada pedaço de terra disponível é cultivado no rochoso e
montanhoso país.
Ao
lado das imagens onipresentes dos cultuados líderes, proliferam celulares e
computadores (com intranet nacional), sinalizando reformas e modernização.
Pessoas bem vestidas, saudáveis, disciplinadas e cordiais levam uma vida
aparentemente normal, apesar das tensões militares, e desfrutam dos modernos
parques de diversão.
Mas
velhos e conhecidos problemas persistem, e a CN segue sendo uma sociedade
tipicamente asiática e socialista, complicada de compreender. Um verdadeiro
planeta Marte: vermelho, Deus da guerra e difícil de chegar, embora haja muitos
turistas ocidentais e chineses nas ruas.