CRISTOVAM
BUARQUE
Não desistiremos,
Eduardo
O
nome de Eduardo Campos não estará nas urnas, e isso fará uma dramática
diferença nas expectativas de milhões de eleitores
A
primeira notícia foi a de que os ventos de agosto derrubaram o avião que levava
Eduardo Campos e outras seis pessoas, apagaram a chama de uma esperança para o
futuro e espalharam perdas pelo Brasil.
A
primeira perda foi familiar. A dor da mãe, da avó, da mulher, dos filhos, do
irmão e dos parentes de Eduardo. Para estes não é preciso tinta escrita, só
lágrimas.
A
segunda perda é dos amigos e conhecidos. Era impossível estar junto de Eduardo
e não ter uma razão para deslumbrar-se com sua simpatia e suas histórias sobre
a cultura nordestina e a vida política. Ao saber da notícia de sua morte, quem
o conheceu sentiu um vazio pessoal, sem contar sua liderança política.
Ele
era um líder político, e a terceira perda é a da esperança que representava
para seu povo, sua pátria. Eduardo carregava a esperança de uma alternativa à
polarização que domina a política brasileira nas últimas décadas.
Mesmo
reconhecendo qualidades no PT e no PSDB, ele conseguia ser diferente dos dois
blocos que dominam a política nacional.
Era
a alternativa viável à mesmice da política atual, em que a discordância
ideológica foi substituída pela raiva mútua que impede a capacidade de
dialogar. Era capaz de conversar com todos os lados, sem perder a firmeza de
suas posições. Como dissera o poeta Ferreira Gullar sobre Gregório Bezerra,
"era feito de ferro e de flor".
A
quarta perda é a da chance de mudança nos rumos do país para atender ao desejo
coletivo por uma alternativa que supere o esgotamento da democracia sem ética;
o sistema de transferência de renda que não transforma o modelo excludente; uma
estabilidade monetária claudicante; um crescimento econômico interrompido.
Sem
propor rupturas, Eduardo defendia uma inflexão no rumo do Brasil para
consolidar as bases da estabilidade monetária; utilizar a educação integral
como porta de saída para os beneficiados pelo Bolsa Família; e criar os
instrumentos necessários para retomar o crescimento de uma economia moderna
baseada no conhecimento científico e tecnológico. Ele era firme e radical em
seu compromisso com uma reforma política, capaz de robustecer nossa degradada
democracia.
A
quinta perda é a do exemplo, da coerência sem intransigência e da coragem de
servir a um projeto político e dele se afastar quando percebeu que o modelo
perdeu seu vigor transformador, abandonou seus princípios e deixou de atender
aos anseios da nação que pede mudanças.
A
sexta perda é do futuro. Já sentimos perdas com as mortes de vários líderes:
Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Tancredo Neves, Miguel Arraes, Ulysses
Guimarães --mas eram líderes que já tinham dado a contribuição que o país
esperava deles. Aos 49 anos, Eduardo estava começando a saltar do que fez por
Pernambuco para fazer para o Brasil inteiro. Adiante estava o futuro, dele e do
país.
A
sétima perda é eleitoral. O nome de Eduardo Campos não estará nas urnas, e isso
fará uma dramática diferença nas expectativas de milhões de eleitores que viam
nele o candidato da novidade, da reforma política, da afirmação da República
sobre os partidos, do tratamento do patrimônio público compromissado com o
povo, o Estado e a nação; da construção de um modelo econômico sem exclusão;
que esperavam dele utilizar todos os recursos federais necessários para fazer a
revolução na educação que o país adia há séculos.
Fica,
porém, o legado e a chama que um vento de agosto não é capaz de apagar. Até
porque, na véspera da sua morte, as últimas palavras públicas de Eduardo foram:
"Não desistam do Brasil".
CRISTOVAM
BUARQUE, 70, é senador pelo PDT-DF e professor da Universidade de
Brasília