MAURICIO
STYCER
A exuberância da indústria
Os
seis indicados ao Emmy de melhor drama ilustram, na sua variedade, a 'era de ouro'
da TV americana
Não é
preciso ir muito longe para entender como as séries de TV ocuparam um lugar
antes exclusivo do cinema na indústria de entretenimento americana. Basta olhar
a lista dos indicados ao Emmy de melhor série dramática do ano.
O prêmio,
que será entregue nesta segunda-feira (25), ficará entre um destes seis
programas: "True Detective", "Breaking Bad", "House of
Cards", "Game of Thrones", "Mad Men" e "Downton
Abbey".
Tudo
bem, esta última é uma produção britânica. Mas não enfraquece a constatação de
que, de fato, a TV americana vive um período de intensa criatividade --uma
terceira "era de ouro", como propôs o jornalista Brett Martin no
livro "Homens Difíceis", publicado neste ano no Brasil.
Como
o Oscar, o Emmy é um prêmio criado pela indústria com o objetivo de festejar a
si própria. Desde as indicações até os resultados da premiação, passando pelo "tapete
vermelho" e pelas piadas do apresentador, há muitos interesses em jogo que
não dizem respeito, necessariamente, à qualidade do conteúdo que está indo ao
ar.
Não é
possível, porém, ignorar que esta indústria soube se reinventar e está ditando
regras para o mercado interno e externo.
É verdade,
como aponta Martin em seu livro, que as melhores séries da última década
colocaram em primeiro plano personagens com características de anti-herói --é o
caso, entre outros, na lista dos indicados ao Emmy, de Walter White, o
professor de química que vira traficante de drogas em "Breaking Bad",
de Frank Underwood, o deputado inescrupuloso de "House of Cards", ou
de Don Draper, o publicitário com moral duvidosa de "Mad Men".
Mas,
contra a ideia de que existe uma fórmula a ser copiada, como parece se tentar
no Brasil, as seis indicadas ao prêmio de melhor série dramática refletem uma
grande diversidade de temas e formatos.
Também
mostram que não bastam boas ideias ou ótimos roteiros. O investimento de
recursos nestas produções impressiona, sugerindo que o negócio é altamente
lucrativo.
PROJETOS
'REAVALIADOS'
Na
coluna da semana passada, "Testando formatos", falei da série "Animal",
desenvolvida por Paulo Nascimento na Globo em 2012, mas que terminou exibida,
este ano, em um canal pago do grupo. Descrevendo a trajetória do projeto,
escrevi que "a Globo desistiu de produzir Animal' e o repassou para o GNT".
A
emissora considera incorreto afirmar que "desistiu" de "Animal".
Ela prefere dizer que, em meio a um processo iniciado em 2013, todos os projetos
de séries desenvolvidos na Globo foram "revisitados e reavaliados, com
vistas à TV fechada e à internet".
Um
executivo da emissora, Guilherme Bokel, ocupa-se agora desta interação com
outros braços do grupo. "Animal" foi justamente o primeiro projeto "reavaliado"
que o diretor de entretenimento multiplataforma levou para o GNT.
Mais
do que um eufemismo, de fato, há uma mudança de filosofia. Como tentei mostrar
no texto da semana passada, a Globo está enxergando a necessidade de aproveitar
melhor os seus recursos.
Além
de projetos desenvolvidos para canais pagos, há produções feitas exclusivamente
para internet. É um movimento interessante, que merece ser acompanhado com atenção.
mauriciostycer@uol.com.br