Jaime
Cimenti
E palavras...
É fácil
chegar ao Bar Essencial. De Porto Alegre, tome a BR-116. Em São Leopoldo, pegue
a estrada para Portão, por baixo do viaduto. Atenção: ande pela direita, senão
você passa por cima e aí o retorno é longe. Cento e poucos quilômetros depois,
entre no Vale dos Vinhedos, em Bento. Escale os lindos morros e colinas que
parecem partes da anatomia feminina, passe pelos vales verdejantes e, pouco
depois, a 645 metros
de altitude, estará no elegante município de Monte de Belo do Sul, que nem
precisava se desligar, em 1992, da poderosa, simpaticíssima e universal Bento
Gonçalves.
Antes
de conhecer o Bar Essencial, que não tem placa na frente e que batizei agora, dê
uma olhada na Igreja Matriz São Francisco de Assis, reze e exercite o seu lado
sagrado. Vale a pena. Até São Francisco de Assis permitiu uma construção
maravilhosa daquelas. Caminhe uns 100
metros pela rua Sagrada Família. Ao lado do
supermercado, entre no prédio. Ali é o bar Essencial, do seu Raul e dona Elza
Canton, filha do seu Ermelindo Zaffari, que comprou o bar em 1954 do seu Julio
Procedi.
Entre
e, sem excessos, exerça seu lado profano. Há salgadinhos, biscoitos, bebidas,
paçoquinha, rapadura, amendoim, chocolates, maria-mole, bala de goma e,
principalmente, mandolate caseiro, delicioso. Não peça barra de cereal, sanduíche,
almoço ou janta que não tem e nem vai ter.
Nas mesas com limpos tampos de fórmica, dispostas sobre um piso bem
encerado, parecendo um espelho, senhores costumam jogar cartas: pif, pontinho,
canastra, escova e, claro, quatrilho. Tomam alguma coisa, não ficam com rostos
muito vermelhos e nem mexendo muito em celulares. O aparelho de TV LCD
permanece desligado a maior parte do tempo, e não tem wifi por ali. Numa das
paredes há samambaias.
Os
compadres, ao menos quando eu estive lá, não discutiam ou brigavam sobre política,
religião, negócios, mulheres e futebol. Curtiam a companhia e o silêncio cômodo
dos grandes amigos, enquanto o tempo passava sem a menor pressa, marcado pelo
badalar dos sinos da Matriz, em frente à Praça Padre José Ferlin. Praça onde
estão o posto da Brigada e a Delegacia de Polícia, para algum imprevisto.
Vá lá
no Bar Essencial, mesmo sem sentar, tomar uma cervejinha ou jogar cartas. Não
deixe de comprar os mandolates. Converse
com o seu Raul, que foi motorista de caminhão no Nordeste, e com a sorridente
dona Elza. Garanto que você vai se sentir em casa. Talvez numa casa antiga,
daquelas com retratões de avôs nas paredes, famílias grandes, cheirinho bom de
comida e limpeza. Ah, e imagens de santos nas paredes e sobre os móveis.