13
de outubro de 2014 | N° 17951
ARTIGO
- PAULO BROSSARD*
PALPITE
INFELIZ
O
certo é que, coincidente com o resultado das urnas ou não, houve uma série de
fatos que mudaram o quadro, de modo que subitamente tudo parecia alterado. A
pretendida reeleição da presidente Dilma ficou pela metade, a despeito da
milionária campanha celebrada, uma força nova entrou em cena com vigor, a ponto
de ocupar posição no proscênio quando era quase obscura. Isto me parece
relevante.
Enquanto
isso, antes da eleição, entidades de pesquisa divulgavam prognósticos como se
possuíssem certeza científica, quando essas especulações eram predominantemente
meras especulações.
A
única pesquisa passível de ser aferida é a que se denomina “boca de urna”, no
dia da eleição, e mesmo assim neste pleito ensejou erros constrangedores.
Não
obstante, é impressionante a onipotência dos órgãos de pesquisa, que chegam
mesmo a se atribuir a “margem de erro”, ao estabelecer o limite percentual de
sua infalibilidade, quando a moderação nunca é demasiada, especialmente em
afirmações que não se pode provar.
É de
espantar que as pesquisas cheguem ao requinte de especular a hipótese da
hipótese, ou seja, se tal ou qual candidato for eleito no primeiro turno,
adiantam qual seria o resultado no segundo turno. Infelizmente, esse conjunto
de palpites pode influenciar o resultado de uma eleição, sem qualquer
responsabilidade a quem os emitiu.
Nem
de longe se está a questionar a utilidade das empresas que fazem pesquisas, mas
é conveniente relativizar suas conclusões. A nossa presidente parece que não
considerou a margem de erro no tocante à honestidade de dirigentes da Petrobras
e de alguns ministros, e o triste resultado não lhe foi lisonjeiro.
Mais
poderia ser dito sobre a eleição do dia e 5 e o segundo turno, mas, limitado no
espaço, fico nesta reflexão. Se os promotores de pesquisas não apresentassem
seus prognósticos como próximos da infalibilidade, poderiam ter evitado o
vexame a que foram submetidos. Bastaria dizer que erraram e, assim como o samba
de Noel Rosa, tudo não teria passado de um “Palpite infeliz”.
*Jurista,
ministro aposentado do STF
PAULO
BROSSARD