As pessoas costumam depositar suas virtudes no acaso esperando pela chance futura de realizar saques com quantias generosas em reconhecimento. Os juros que não rendem, as juras dos favorecidos vendem. É um mercado instável, requer serviço abnegado. Um investimento sem garantias de retorno, sem prazos de entrega ou reajuste programado. Eu, como todo bom cético, guardo minha confiança debaixo do colchão. Então, antes de dormir, verifico cuidadosamente os problemas à minha volta com caráter de urgência, daí consulto o meu capital ali mesmo, no travesseiro. O meu percentual de valores não é lá grande coisa, no entanto, sempre está bem organizado, sendo constantemente revisado e registrado em um orçamento detalhado. Há uma grande soma em perspicácia, razoável importância em maleabilidade, certa quantia em empatia, alguns trocados em trocadilhos, como também outros tantos bens destinados a fazer o bem. Após todo esse procedimento, torna-se mais fácil repassar os valores exatos com a finalidade de resolver os problemas emergentes. Já que só cuidamos bem daquilo que é nosso, e visto que os problemas estão me cercando queira eu ou não, seria tolice achar que eles não me pertençam, mesmo sob o risco de cobranças extras e correção. Assim o meu caráter permanece intacto, o investimento destes valores continua promissor e o meu saldo devedor de consciência não entra no vermelho. Tenho total descaso pelo acaso, tributos às tribulações, como também não deixo a minha vida ao encargo financeiro do destino. O destino não possui a mesma credibilidade do instinto.
