quinta-feira, 20 de outubro de 2016


17/10/2016 - 21h48min | Atualizada em 17/10/2016 - 21h50min

Morte em campanha 


Busatto lamenta perda de amigo. Do aeroporto de Lima, o secretário da Governança de Porto Alegre escreveu texto em homenagem ao coordenador do plano de governo de Sebastião Melo


Amigo de Plínio Zalewski há 17 anos, o secretário de Governança de Porto Alegre, Cezar Busatto, estava em Lima, no Peru, quando soube da morte do coordenador estratégico da campanha de Sebastião Melo, seu ex-assessor. 

No aeroporto, à espera do voo que o trará de volta para acompanhar o velório e enterro nesta terça-feira, Busatto escreveu um artigo com título em forma de pergunta: ¿Plínio, por que, querido amigo?¿ e encaminhou o texto à coluna.

¿ Sei que estavas inconformado e abalado com o baixo nível da campanha eleitoral deste segundo turno em Porto Alegre", diz um trecho do artigo.

Confira a íntegra da homenagem: Plínio, por que, querido amigo?  - Cezar Busatto - Secretário de Governança Local de Porto Alegre

Nos encontramos pela primeira vez em 1999, tu abalado com a virulência das disputas internas que ocorriam no PT e eu começando um segundo mandato de deputado estadual, depois de quatro anos como secretário da Fazenda. Nosso encontro logo se transformou em parceria intelectual, política e afetiva. Estavas em busca de novos significados para a política, novos conteúdos, fora da perversa e reincidente disputa pelo poder de Estado entre partidos e grupos dentro dos partidos.

Lá se vão 17 anos de amizade política. Tantas coisas construímos juntos e das quais sou teu devedor. Nesta hora de sentimento profundo de perda, de choque e de tanta dor, não posso deixar de dar esse testemunho do teu valor e inteligência como intelectual e homem público.

Contigo meu mandato parlamentar incorporou o conceito de responsabilidade social e criamos em 2000 da lei e do Prêmio de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa que está aí até hoje. Contigo ampliamos o conceito de responsabilidade social como responsabilidade de todos, cidadãos, governos, instituições, organizações não governamentais, porque naquela época o conceito aplicava-se somente para empresas. 

A partir desta nova concepção, nasceu a Comissão Especial de Responsabilidade Social em 2003 e o Projeto de Lei de Responsabilidade Social, como um necessário complemento da Lei de Responsabilidade Fiscal de 2001.

Beneficiados pela tua sabedoria e espírito público e em busca de uma nova cultura política, juntamente com um grupo de parceiros e amigos dedicados e idealistas, formulamos em 2004 o conceito de Governança Solidária Local. Esse conceito estabeleceu os fundamentos do projeto político que venceu as eleições municipais de Porto Alegre naquele ano e tornou-se o paradigma do novo modelo de gestão da prefeitura que até hoje governa a cidade.

O que pensar de tão definitiva e inusitada atitude tua, querido amigo, no auge dos debates sobre os rumos da política e da cidade que amavas, depois de tão generosas e inovadoras contribuições que tens dado para uma nova política e uma cidade mais democrática ? Vivias um momento de merecido reconhecimento público pela competência na coordenação estratégica da campanha do teu candidato a prefeito da cidade. Tua vida pessoal em harmonia, uma família maravilhosa, esposa e filhas que te orgulhavam tanto, amigos e amigas que te admiravam, uma gostosa e produtiva convivência cotidiana nesses dias intensos de Porto Alegre.

Tento entender e não consigo. Só uma coisa me vem à cabeça. Sei que estavas inconformado e abalado com o baixo nível da campanha eleitoral deste segundo turno em Porto Alegre. Denuncismo político e agressões pessoais que inclusive tentaram atingir-te. Ações típicas dos grotões políticos mais atrasados. Atos de violência e guerra transbordando a necessária civilidade da convivência entre adversários. Tentativas de chegar ao poder a qualquer custo. Uma agressão profunda às tuas ideias e convicções. Um decepcionante retrocesso às velhas práticas políticas que condenavas tanto e que tanto contribuístes para superar.

Será mesmo que não aguentastes tamanha decepção e tristeza por tanta miséria humana e que não resististes em expressá-la da forma mais radical possível? Será que te imolastes para dizer que é preciso dar um basta definitivo nessa forma destrutiva de fazer política que é repudiada pelo cidadão comum e adoece a vida em sociedade? Será que fostes vítima da perversão da política como guerra?(*) Uma homenagem póstuma a Plinio Zalewski Vargas, 196... - 17/10/2016