segunda-feira, 13 de abril de 2020



13 DE ABRIL DE 2020
CORONAVÍRUS

Hoje emergencial,trabalho a distância deve crescer 30%

Pesquisador da Fundação Getulio Vargas projeta que os benefícios do teletrabalho podem ser duradouros no Brasil

O rastro que o coronavírus tem deixado país afora - para além de dor, distanciamento e superação - é de cautela no mercado e mudanças nas relações trabalhistas. Empresas perdem fôlego financeiro com receitas à míngua, oportunidades nascem e alguns negócios se adaptam em busca de sobrevida. Nesse cenário, o trabalho remoto emergencial foi a principal medida adotada pelo empresariado para resistir à crise e ajudar na contenção da covid-19, uma ação que tende a ter impactos irreversíveis, segundo o estudo Tendências de Marketing e Tecnologia 2020: Humanidade Redefinida e os Novos Negócios.

Desenvolvida por André Miceli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas, a pesquisa prevê crescimento de 30% do home office no Brasil após a pandemia. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o trabalho em casa ou em outros espaços, como o coworking, cresceu 21,1% entre os anos de 2017 e 2018.

- O home office já se mostrou efetivo. Aliado a isso, você tira carros da rua, desafoga o transporte público e mobiliza a economia de outra forma. Faz com que as pessoas tenham mais tempo para cuidar de sua saúde e usufruam de coisas que lhes dão prazer sem que a empresa tenha redução das entregas e do faturamento - destaca Miceli.

Wolnei Ferreira, diretor-executivo da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), reconhece que houve empresas aderindo ao home office de forma atabalhoada, sem os devidos cuidados e nem garantias de eficácia e viabilidade. Aos poucos, avalia, os empresários estão melhorando estruturas e percebendo uma solução "confiável, segura e de contingenciamento de gastos". Ainda que forçado por conta da pandemia, o trabalho remoto implantado emergencialmente serviu como um projeto-piloto para quem vinha amadurecendo a ideia.

- Antes da pandemia, alguns empresários estavam adotando de forma temerária. Deixavam alguns funcionários em casa uma vez por semana, mas a tendência é de que a lógica se inverta após a crise: uma vez por semana no trabalho e o restante em casa - projeta Ferreira, que também é diretor jurídico da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).

Miceli discorre em seu estudo que, em momentos de instabilidade, como o da pandemia, é preciso ser flexível com estruturas e modelos corporativos para prosperar. E sempre ter em mente os benefícios que esse modelo de trabalho traz para o empregador, como aumento entre 15% e 30% na produtividade do colaborador.

Cautela

Visão diferente tem o professor de Sociologia e coordenador- adjunto da especialização em Relações de Trabalho da UFRGS, Fernando Cotanda.

- Desconheço o estudo em questão, mas duvido que o home office como um todo aumente 30% depois da pandemia. É verdade que a modalidade vem crescendo no Brasil, mas imaginar que durante o curto período da epidemia ocorra uma migração significativa é precipitado - avalia Cotanda.

Para ele, as restrições impostas pela pandemia irão acelerar a implantação de trabalho remoto, mas o método não é aplicável a qualquer atividade produtiva e é um movimento complexo e demorado:

- É importante lembrar que esse fenômeno está ligado ao crescimento da terceirização e da informalidade no Brasil. Portanto, é preciso cautela ao imaginar cenários positivos. O home office, no caso brasileiro, pode estar a associado à precarização do trabalho, especialmente à intensificação da jornada e a perdas de direitos.

MARCELO KERVALT

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