segunda-feira, 13 de abril de 2020



13 DE ABRIL DE 2020
DIÁRIOS DO MUNDO

Espanha, laboratório mundial da reabertura

Os olhos do planeta estarão voltados hoje para a Espanha, país europeu que começa, ainda que lentamente e sob duras regras, a reabertura gradual de setores da construção civil e industrial, além de outras atividades em que o teletrabalho não é possível.

Não há certezas sobre o impacto da medida anunciada pelo governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez - e muitos políticos da oposição, em especial do Partido Popular (PP), têm criticado a retomada do funcionamento de áreas que não foram consideradas essenciais no decreto de paralisação econômica aprovado em 29 de março.

O medo é de uma segunda onda do coronavírus. Até agora, na Espanha, a pandemia matou 16,9 mil pessoas (terceira nação com maior número de óbitos no mundo, atrás de Estados Unidos e Itália). O leve aumento do registro de mortes nas últimas 24 horas reforça o argumento de que seria muito cedo para retomar a roda da economia. Os números ainda são ruins: 619 óbitos entre sábado e domingo.

Em meio às incertezas, Sánchez, do Partido Socialista, reiterou ontem que o fim do que os espanhóis chamam de "hibernação econômica" não significa o encerramento da reclusão dos cidadãos, que segue, na melhor das hipóteses, até o dia 26. Ou seja, lojas não essenciais e escritórios continuarão fechados.

Mas o clima é de tensão nas ruas das maiores metrópoles espanholas, como Madri e Barcelona. Como ir trabalhar e ficar lado a lado com os colegas nas fábricas? Como ficar dentro do metrô e do ônibus em contato com outros passageiros? Haverá equipamentos de proteção individuais (EPIs) para todos os funcionários nas empresas? São dúvidas que passam que certamente tiraram o sono de muitos trabalhadores nas últimas noites.

Para tentar controlar o contágio com a volta parcial às atividades, o governo vai distribuir 10 milhões de máscaras de proteção nas estações de metrô e trem. Um manual de 13 páginas foi distribuído à população com regras bastante duras sobre como se comportar a caminho do trabalho, as medidas que devem ser adotadas durante o expediente e, depois, na volta para casa (um resumo ao lado).

A questão se tornou uma batalha entre o governo e alguns presidentes das comunidades locais (espécie de governadores), que defendem a continuidade do lockdown. Muitos estão dizendo que o governo central está baixando a guarda. O presidente de Castela e Leão, Alfonso Fernández Mañueco, por exemplo, exigiu garantias para que não haja retrocesso na luta contra o coronavírus.

- O senhor está em condições de garantir a segurança dos trabalhadores? Considera suficiente o planejamento? - questionou, durante uma tensa videoconferência, dirigindo-se a Sánchez.

O primeiro-ministro tem pedido a desescalada da tensão política. Até agora, a Espanha tem tido um dos mais rigorosos confinamentos da Europa. As pessoas só podem sair de casa para trabalhar se não puderem fazê-lo de suas residências, para comprar comida ou remédios e para passear com o cachorro, mas não podem, como em outros países, fazer exercícios ou caminhar.

O case espanhol vai servir de laboratório até para o Brasil, nação com maior número de casos na América Latina, mas cujo pico ainda não foi atingido. Na Espanha, antes de se celebrar qualquer resultado, nos próximos dias será fundamental acompanhar a evolução da transmissão e a capacidade de atendimento dos hospitais. Os resultados da flexibilização só saberemos daqui a duas semanas.

O que diz o guia de regras

A caminho do trabalho, cada espanhol deve manter distância mínima de 2 metros em relação a outra pessoa. Ao invés de usar transporte público, são recomendadas motocicleta, bicicleta ou caminhada. Sobre o uso do próprio carro, a orientação é redobrar os cuidados com a limpeza, principalmente em áreas onde há contato, como maçanetas, volante e câmbio.

No ônibus ou no metrô, "apenas uma pessoa deve viajar em cada fileira de assentos, mantendo a maior distância possível entre os ocupantes". Máscara é obrigatório.

Ao chegar e sair do trabalho, a distância de dois metros deve continuar sendo observada. O mesmo vale para o local de execução das tarefas. "Em particular, a área do vestiário deve garantir que a distância interpessoal possa ser mantida e armários individuais estejam disponíveis para guardar roupas.

Em empresas que atendem ao público, medidas deverão ser implementadas para minimizar o contato entre trabalhadores e clientes. A permanência do público deve ser somente a "estritamente necessária".

O pagamento online ou por cartão será incentivado e facilitado. "A empresa deve fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) quando os riscos de exposição não podem ser evitados ou não podem ser suficientemente limitados por meios técnicos de proteção coletiva ou por medidas para organizar o trabalho."

As empresas devem ampliar os horários o máximo possível para evitar multidões de pessoas no transporte público, bem como na entrada e saída dos prédios. "Recomenda-se suspender o ponto por impressão digital, substituindo-o por qualquer outro sistema."

As empresas devem sinalizar claramente seus serviços médicos, que deverão estar a postos para intervir durante todo o período de funcionamento. A temperatura do ambiente deve ser mantida entre 23ºC e 26ºC. Medidas de higienização devem ser regulares.

Para roupas utilizadas no trabalho, o guia recomenda que, quando terminado (o expediente), elas devem ser colocadas em sacos. A lavagem que deve ser com água quente.

RODRIGO LOPES

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