05
de agosto de 2014 | N° 17881
LUIZ
PAULO VASCONCELLOS
COINCIDÊNCIAS FÚNEBRES
“Não
sei, só sei que foi assim”
Ariano
Suassuna, Auto da Compadecida
A
morte de três grandes escritores em julho último deixou o país perplexo. Mais
ou menos como aquela série de gols da Alemanha contra o Brasil e que resultou
no inesquecível 7 a 1
da última Copa. Com mais conteúdo, evidentemente, porque entre a morte de um
escritor e um gol vai uma grande diferença.
O
primeiro foi João Ubaldo Ribeiro, dia 18. Baiano nascido na Ilha de Itaparica,
João Ubaldo foi jornalista, editor-chefe do jornal Tribuna da Bahia, contista e
romancista consagrado com a publicação, entre outros, dos livros Sargento Getúlio,
Vencecavalo e o Outro Povo, Viva o Povo Brasileiro, O Sorriso do Lagarto e A
Casa dos Budas Ditosos, que em 2004 foi adaptado para teatro por Domingos
Oliveira e resultou num trabalho inesquecível de Fernanda Torres.
No
dia seguinte foi Rubem Alves, professor de filosofia e escritor de inúmeros
livros para o público infantil. Perseguido pelo regime militar, Alves foi para
os EUA, onde se doutorou pelo Princeton Theological Seminary com uma tese que, segundo
o autor, serviu de base para a Teologia da Libertação, movimento que teve
Leonardo Boff como seu mais enfático representante.
O
terceiro foi o genial Ariano Suassuna, fundador, junto com Hermilo Borba Filho,
do Teatro do Estudante de Pernambuco, o mais importante grupo de teatro amador
do país nas décadas de 1940 e 50. Suassuna escreveu, entre outras, as peças
Torturas de um Coração, O Casamento Suspeitoso, O Santo e a Porca, A Pena e a
Lei e o Auto da Compadecida, esta última considerada por Sábato Magaldi “o
texto mais popular do moderno teatro brasileiro”. Em 1970, iniciou o Movimento
Armorial, juntando as formas de expressão popular com a música erudita
nordestina.
Pois
foi essa a coincidência que o recém acabado mês de julho nos reservou. E,
convenhamos, três mortes de três grandes escritores em um único mês é uma baita
perda. Que só foi superada pelo já longínquo abril de 1616, quando os dois
maiores escritores das línguas espanhola e inglesa de todos os tempos
faleceram, Miguel de Cervantes no dia 22 e William Shakespeare no dia 23. Haja
coincidência...