11
de agosto de 2014 | N° 17887
L. F.
VERISSIMO
Imagens
O
Millôr pulverizou a frase feita “uma imagem vale mil palavras”, desafiando: “Diga
isso sem palavras”. Mas em alguns casos uma imagem, ou uma superimposição de
imagens, diz tudo sobre um momento, sem precisar de palavras. Há dias os
jornais publicaram, simultaneamente, duas fotos: uma do Marcelo Rubens Paiva na
Flip, interrompendo um depoimento que fazia sobre o desaparecimento de seu pai,
Rubens Paiva, morto pela ditadura militar, até poder controlar a emoção; outra
a do coronel Wilson Dias Machado, um dos ocupantes do Puma em que explodiu,
prematuramente, a bomba destinada a causar pânico e mortes no Riocentro, em 30
de abril de 1981.
O
coronel está rindo na foto. Depois de mais de 30 anos desde o seu
desaparecimento, a família do Rubens Paiva continua sem saber onde está o seu
corpo. Nos 33 anos desde a explosão da bomba no seu colo, o então capitão Dias
Machado teve uma carreira militar normal, com promoções sucessivas, chegou a
coronel e certamente chegará a general.
A
julgar pela sua foto, está em paz com sua vida e sua consciência. Os superiores
do coronel, que planejaram e ordenaram o atentado, também não têm com que se
preocupar. Os responsáveis pelo desaparecimento de Rubens Paiva também não. A
própria instituição militar já disse que nada de anormal aconteceu nos seus
quartéis durante o chamado “período de exceção”. Todos podem rir como o coronel.
O
CASO DO PICASSO
No
recém-lançado filme do Jorge Furtado, O Mercado de Notícias, um semidocumentário
sobre a imprensa brasileira, é lembrada a descoberta há alguns anos de um
quadro do Picasso numa dependência do INSS, denunciada pela imprensa como um
escândalo, prova da ignorância de servidores que não sabiam o tesouro que
tinham na parede e/ou de desperdício indefensável de dinheiro público.
O Picasso
do INSS rendeu várias reportagens; e, como se não bastasse a indignação já provocada,
o prédio em que estava pegou fogo – ameaçando a preciosa obra! Que, é claro, de
preciosa não tinha nada. Era um pôster reproduzindo um retrato de mulher do
Picasso como se pode comprar em qualquer loja de museu no mundo, emoldurar e
botar na parede gastando muito pouco.
O
Jorge conta o caso do Picasso autêntico que era cópia como exemplo de um hábito
reincidente de certa imprensa de ver ou fabricar escândalos onde não há nenhum –
e vá esperar retratação quando a denúncia é desmentida. Mas o filme do Jorge,
com depoimentos de gente como Mino Carta, Bob Fernandes, Janio de Freitas,
Cristiana Lôbo, Renata Lo Prete, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto,
Leandro Fortes, Luís Nassif, Mauricio Dias, Paulo Moreira Leite e Raimundo
Pereira, acaba sendo um elogio da nossa imprensa. Se mais não fosse, pela
qualidade dos depoentes.