13
de agosto de 2014 | N° 17889
FÁBIO PRIKLADNICKI
BUKOWSKI
É
difícil não simpatizar com Bukowski. Ele era velho, narrava aventuras sexuais e
ainda gostava de música clássica. Em cartaz no Teatro de Arena de Porto Alegre
até domingo, a peça Bukowski – Histórias da Vida Subterrânea, do Depósito de
Teatro, quer mostrar que, por baixo de toda essa safadeza, batia um coração.
Baseado
em diferentes obras do escritor norte-americano, o espetáculo destaca a poesia,
segmento menos conhecido de sua obra no Brasil. Assinada por Roberto Oliveira
(sob o heterônimo Modesto Fortuna), a dramaturgia começa com uma sequência bem
amarrada. Depois de um prólogo, vemos o escritor no auge da fama, em uma
leitura na universidade, o que leva a um flashback da infância sofrida nas mãos
de um pai violento.
Praticamente
todo o espetáculo é dedicado à relação conturbada – e frequentemente engraçada
– com as mulheres. Do meio para o final, o encadeamento das cenas de
relacionamentos amorosos se torna um pouco burocrático, mas isso não tira o
brilho da produção. Um espetáculo é mais do que a soma de suas partes.
Oliveira,
que também é o diretor, representa um Bukowski sincero, sem artifícios. Parece
à vontade em um papel que mistura deliberadamente o escritor e seu alter ego
Henry Chinaski. Pitti Sgarbi tem o desempenho mais cativante, interpretando uma
porra-louca, entre outros papéis, mas também merecem destaque os demais atores:
Elisa Heidrich, Francine Kliemann, Aline Armani Picetti e Marcelo Johann.
A
trilha sonora é impecável, incluindo música clássica e o outsider Johnny Cash;
o cenário é coerentemente bagunçado, repleto de livros e garrafas (e com uma cama
literalmente em cima da plateia); os figurinos fazem justiça ao perfil de cada
personagem; e a iluminação completa um espetáculo que é, além de tudo, tocante.