15
de setembro de 2014 | N° 17923
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
ERA
UMA VEZ ONCE UPON A TIME
A
própria frase “Era uma vez” já nos remete para um mundo ao mesmo tempo
improvável e real, onde feijões mágicos sobem até as nuvens, meninas ferem o
dedo e passam a dormir de forma permanente até a aparição de um príncipe
encantado com um cartão American Express Platinum; bruxas más e bruxas normais
voam de vassoura pelo céu estrelado e meninos evitam crescer simplesmente não
querendo. Esse mundo cresce conosco e nunca nos abandona da mesma forma que a nossa
infância nunca se vai de verdade. Por isso, os contos de fadas são tão eficazes
na hora de nos fazer ouvir e querer mais.
Once
Upon a Time é uma série baseada na relação entre nós, contos de fadas e essa
incomodação também conhecida como realidade. Nela, pessoas de uma cidadezinha
são personagens mágicos que pensam que são gente. Um menino apenas, que possui
um livro e, portanto, tem poderes mágicos, será capaz de quebrar o encanto.
Livros, como todos sabem, são encantados. Livros de contos de fadas, então, são
encantados e turbinados.
Nossos
personagens são o que são, sem saber, e precisam acordar sem contar com a ajuda
de um príncipe. Claro que eles representam a nós, que adoraríamos jamais
acordar, ou crescer. Por isso, a gente vê Once Upon a Time do jeito que vê,
transformados em crianças.
No
Netflix, estão as duas primeiras temporadas, creio. Vão, vejam e, aproveitando
o embalo, encontrem e assistam a um grande filme de contos de fadas, A Princesa
Prometida, uma beleza feita pelo Rob Reiner há um tempão. Nele, Peter Falk
tenta entreter o netinho gripado usando nada mais do que um livro de contos de
fadas.
Funciona,
sempre funciona. Por isso, alegue um resfriado grave e não saia de casa. Fique
aí mesmo, imerso no vasto mundo da melhor parte das nossas vidas, aquela em que
a nossa imaginação é o que nos move, e não essa coisa chata, sem graça,
inodora, insípida e incolor também conhecida como razão.