22
de setembro de 2014 | N° 17930
PAULO
SANT’ANA
Só casa e comida
Nada
se compara ao sofrimento do meu cachorro, o Kunga, da raça lhasa.
Quando
sai para a rua o último dos humanos que permanecia em casa, ele deita-se na
solidão da casa abandonada e fica à espera de que alguém volte.
É um
abandono digno de dar pena.
Ele
se deita no assoalho do corredor e lança seu olhar de imediato para a porta de
entrada, esperando pelo nada por horas a fio. E ninguém chega para consolá-lo.
É verdade
que deixamos para ele a ração num pote no chão e uma vasilha de água.
Mas
de que adianta esse suprimento se a solidão esmigalha o ser?
Duas
ou três horas depois, hão de voltar os três habitantes da casa para finalmente
fazer-lhe companhia.
Mas
como ele preenche essas três horas?
Certamente
com grandes aflições.
A
comida está garantida para ele, mas não basta a comida para realizar qualquer
ser vivo.
É preciso
atenção, companhia, que são garantia do seu sono. Enquanto não as tiver, será assaltado
pela incerteza terrível: voltarão os três seres humanos, eu, minha mulher e
minha filha, para aconchegá-lo ou serão por exemplo vitimados por um acidente
na rua e não mais retornarão, deixando até de garantir-lhe a água e a comida?
Ele
precisa menos da água e da comida do que da companhia dos outros três
habitantes da casa.
E
quando irrompe na porta um dos três companheiros, é de ver a sua euforia,
sacode de modo frenético o rabo, está definitivamente realizado.
Tenho
certeza de que o ponto central da sua existência é a volta à casa dos três
humanos.
Ele
alcança então o ápice da sua estreita vida.
Meu
cãozinho de quatro anos de idade é castrado, não sei quem lhe fez essa suprema
maldade, se os meus parentes ou se o dono que mo vendeu.
Não
precisa pois de sexo, o coitadinho, nem lhe passa pela cabeça o devaneio do
sexo.
Tirem
de um homem ou de uma mulher a ilusão do sexo e lhe tirarão tudo.
Só lhe
restarão quem sabe a comida e a companhia solidária. Não será pouco?
Com
grande atuação de Geromel, o Grêmio conseguiu uma vitória ontem sobre a
Chapecoense e aproxima-se entusiasticamente do G-4.