28
de setembro de 2014 | N° 17936
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Fossa Nova
Nunca
se comenta, nunca se discute, mas uma das principais modas é a da fossa. Fossa
Nova que João Gilberto não sonhou em cantar.
Nenhum
estilista providenciou um desfile sobre os deprimidos do amor, mas são as
roupas que mais saem e as mais usadas.
Nenhuma
Fashion Week abordou o assunto, mas não há vivalma que não tenha experimentado
a eterna tendência.
As
roupas da fossa são simples. Escuras, velhas e desbotadas. Aderem ao inverno
total, apesar do sol brilhando lá fora. Não trazem cores quentes e ávidas do
contato. Não provocam a atenção do verão e da primavera. Expressam cores
resmungos, cores sombrias, avessas às gargalhadas e absolutamente discretas.
Vestidos?
Jamais. Necas da sensualidade de pernas e tornozelos à mostra.
Blazers
e casacos? Impossível. Às favas a sobriedade e a harmonia do conjunto
masculino.
As
calças pedem bolsos destinados ao lenço de papel, à aliança solteira e ao
celular no silencioso. Pode ser de um abrigo surrado ou daquela calça jeans
pronta para o sacrifício final.
As
mulheres preferem as pantufas e os moletons com mais bolsos ainda.
Os
homens optam pelo figurino de pintor de paredes: camiseta básica e manchada.
Os
hábitos alimentares influenciam os modelos. As mulheres mergulham em potes de
sorvete e desmancham barras de chocolate. Os homens recorrem ao álcool e à
pizza como antidepressivos. Quem pede pizza durante três dias na semana é certo
que vem penando por uma separação. Toda tele-entrega já identifica o cliente.
Estarão
disfarçados de mendigo, interessados na praticidade: colocar e esquecer. Suas
vestimentas formam um estranho macacão.
Não
querem responder perguntas, odeiam cumprimentos educados como “tudo bem?” ou “o
que fez no final de semana?”. Não desejam interagir. Querem passar
despercebidos dentro da própria casa mesmo quando não tem ninguém.
São
darks pelas olheiras. São grunges pela sobreposição. São punks pelos cabelos
desalinhados e duros.
É
uma mistura de épocas e de restos de coleções. Seus adeptos representam brechós
andando, brechós-centopeias.
O
que diferencia o deprimido é a falta de capricho no detalhe. Ele dispensa
acessórios.
Se a
mulher passeia pelo bairro desprovida de penteado é sócia do desastre.
Se o
homem anda pela rua calçando um sapato sem meia está submerso na dor de corno e
de cotovelo.
Se a
mulher caminha sem maquiagem, brincos e colar está enfrentando um divórcio.
Se o
homem percorre seu caminho ao trabalho desfalcado de cinto está vivendo sua
decadência sentimental.
Vestir
a dor tampouco exige medidas. As peças sobram ou apertam a cintura e não se
reclama. Dois números acima, dois números abaixo, tanto faz, o desconforto não
incomoda. A proposta é não se gostar mesmo.