ELIANE CANTANHÊDE
Gatos e
ratos
BRASÍLIA - "Não é função da imprensa fazer
investigação", decretou a presidente e candidata Dilma, numa das suas
entrevistas diárias no Alvorada a uma multidão de representantes da própria
imprensa.
No fundo, Dilma queria dizer: "A função da imprensa é
publicar as versões oficiais, as declarações que eu quero e tudo o que
contribui com a minha campanha e atrapalha a dos os meus adversários".
Não chegou a tanto, mas disse que nenhum órgão da imprensa
tem o status da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo, esses,
sim, aptos a investigar e/ou julgar. E o PT, tem ou não?
O partido nasceu, cresceu, encorpou e ganhou a Presidência,
entre 1980 e 2002, justamente em aliança com a PF, o MP e... a imprensa,
vasculhando tudo e todos e criando duas categorias de políticos no país:
"nós, os puros e éticos, e todos os outros, impuros e antiéticos".
Quem comandou as investigações e a CPI que aniquilaram
Collor, hoje amigão de Lula e aliado de Dilma? Quem esteve por trás da
divulgação dos escândalos envolvendo qualquer um não petista? O PT, que entrou
para a história como o grande partido ético e o grande partido de oposição.
Era ele quem, infiltrado em diferentes instâncias da máquina
pública, levantava as suspeitas, fazia dobradinha com policiais e procuradores
e pautava os jornalistas. Eles iam à luta, confirmavam a veracidade, colhiam os
detalhes e faziam as manchetes. Ou seja, investigavam.
O PT não resistiu à mudança de posição. O gato virou rato, e
a imprensa, de "amiga", passou a "inimiga", quando não foi
e não é nem uma coisa nem outra. Apenas deve cumprir o seu papel, inclusive o
de investigar.
Graças a ela, o país soube dos escândalos dos governos de
Sarney, FHC, Lula e Dilma. Entram aí o mensalão, o doleiro camarada, os
Correios, o Banco do Brasil, a Petrobras.
Não seja ingrata, presidente! O Brasil precisa cada vez mais
dos jornalistas investigativos.