17
de setembro de 2014 | N° 17925
MOISÉS
MENDES
Florestas no
asfalto
ORio
virou a cidade da pilantragem. A ganância, e não o tráfico, vai acabar com o
Rio. Li na semana passada que os serviços funerários foram reajustados em até
2.000%. Tudo, inclusive morrer, custa no Rio mais do que em Tóquio, Taiwan ou
Nova York.
O
Rio foi sequestrado pelos espertalhões, grandes e pequenos. Todo mundo logra todo mundo. Há arrastões
todos os dias na praia. Oficiais da Polícia Militar chefiam a máfia da
extorsão. E a eleição para governador será decidida entre Pezão e Garotinho.
O
Rio é a concentração de tudo o que o Brasil tem de mais repulsivo. Sei, você
vai dizer que estou generalizando, que preciso ver o lado bom do Rio. Sim, cito
os trabalhadores, o povo, a praia, o Corcovado, tudo o que um candidato
citaria. Não muda nada.
O
Rio tem pelo menos uma chacina diária. Os índices de violência são parecidos
hoje com os de antes da instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, em
2008. Os traficantes retomaram o comando de alguns morros. E a escolha final
será então entre Pezão e Garotinho.
Foi
nesse cenário que apareceu a “louca de Copacabana”. A arquiteta Tânia Kusnitzki
Rangel Lima saiu a plantar mudas de árvores nos buracos de ruas e calçadas do
bairro. Viva a loucura de Tânia.
Ela
foi filmada. Meu amigo Heitor Schmidt, que me manda os mais recentes
lançamentos do YouTube, desde a última entrevista do Luc Ferry sobre Deus até o
gato que dorme no colo da Peppa (é que temos gatos), me enviou ontem o vídeo em
que a arquiteta tenta convencer dois policiais a não arrancarem uma muda numa
esquina da Barata Ribeiro.
A
moça perdeu. O policial arrancou a planta. Buracos não podem ser ocupados por
árvores. Mas as pessoas caem nos buracos, argumentou a arquiteta. Não adianta.
A polícia está ali para evitar que Copacabana se transforme numa floresta. As
plantas atrapalham os carros, e a rua é dos carros.
Por
um bom tempo, tratei a buraqueira de Porto Alegre com humor. Depois dos custos
de uma roda torta, parei com a brincadeira. Há desrespeito com todos numa
cidade que não consegue tapar buracos de rua. São buracos profundos e bueiros
que continuam afundando. Porto Alegre está sem manutenção.
Se
eu tivesse coragem, e não tenho, iria copiar a moça de Copacabana. Tenho algum
conhecimento. Já plantei pitangueiras em áreas verdes de Porto Alegre e
presenteio amigos com mudas de pitangueiras.
Meu
leitor Miguel Dornelles, morador da Vila Nova, ficou sabendo que eu havia
virado o louco das pitangueiras e me telefonou: tem centenas de mudas me
esperando no pátio da casa.
Se
eu e o Dornelles decidíssemos plantar as mudas nos buracos de Porto Alegre,
teríamos a maior floresta de pitangueiras de asfalto do mundo. Mas eu não me
arrisco a desafiar as leis do asfalto.
Aqui
está o vídeo da moça que tenta dar utilidade aos buracos do Rio:
www.youtube.com/watch?v=ab9ZLv8wiD8.