27 de setembro de 2014 |
N° 17935
PAULO SANT’ANA
Os burros e nós
Eu fumo muito. No entanto, nunca
tomo café. Acho isso muito estranho, porque tanto o café quanto o cigarro são
estimulantes.
Mas, se são iguais assim, por que
não me atrai o café?
Acho que já descobri a causa: se
já tenho o cigarro como estimulante, por que precisaria do café?
Um estimulante só já basta.
Vamos agora à comparação entre o
burro e o inteligente.
Entremos num bar e notemos as
parcerias que se formam nas mesas.
Se você vê na mesa nº 1 duas
pessoas e na mesa nº 2 uma pessoa sozinha, pode apostar que as duas pessoas
sentadas juntas são burras e a sentada sozinha é inteligente. Quase sempre essa
conta dá certo.
O inteligente senta sozinho
porque a solidão lhe basta. Enquanto que o burro é quase sempre gregário – para
o burro, a solidão é insuportável.
Já se numa mesa se dá que
encontraram-se um burro e um inteligente, a conversa se torna intolerável se
durar mais de dois minutos.
E, se encontraram-se na mesa dois
inteligentes, é certo que vai crescer sem limite a despesa no bar. Eles nunca
vão se fartar um do outro, podem ficar conversando por horas a fio. O bar vai
virar em seguida restaurante.
Vem daí outra vantagem em ser
burro: a despesa do burro é muito menor no restaurante.
Eu sinto medo dos burros. Eles
sempre me levam à exasperação.
Já os inteligentes me fascinam,
eles me ajudam a me exercitar mentalmente.
Já o burro, mentalmente, quando me
encontro com ele, tenho uma recaída: enquanto permaneço com ele, minha
inteligência se atrofia e eu passo a ficar no nível dele.
Por isso é que se diz que certos
colégios são melhores do que outros. Não são os colégios, são os alunos.