Jaime Cimenti
Escravatura, liberdade e ilusão no Novo
Mundo
O império da necessidade -
Escravatura, liberdade e ilusão no Novo Mundo (Editora Rocco, 400 páginas, R$
49,50, tradução de Ana Deiró), do professor e escritor norte-americano Greg
Grandin, mostra o complexo e surpreendente comércio transatlântico de escravos,
que transportou mais de dez milhões de africanos para as Américas. Greg é
professor do Departamento de História da Universidade de Nova Iorque e um dos
maiores especialistas em história da América Central.
Certa manhã de 1805, navegando
pelo Pacífico, o caçador de focas da Nova Inglaterra Amasa Delano cruzou com um
navio espanhol em dificuldades. Ao subir na embarcação, encontrou 72 africanos,
entre homens, mulheres e crianças, que pareciam ser escravos.
Só pareciam. Na verdade, eles
tinham matado a maioria da tripulação e assumido o controle da embarcação. Essa
história incrível, que serviu de inspiração para Benito Sereno, obra-prima do
genial Herman Melville, é o ponto de partida que Greg utilizou para uma
investigação ampla e profunda sobre escravidão e liberdade nas Américas. A
liberdade almejada pelos comerciantes também era justamente a liberdade de
comprar e vender africanos cativos como bens, abastecendo os mercados das
Américas.
Na sua obra, Greg mostra como o
notório encontro de Delano com o espanhol Benito Cerreño e os africanos Babo e
Mori numa embarcação à deriva no Atlântico Sul expõe um fascinante conflito de
civilizações, num contexto de febre de comércio de escravos. Bem como disse
Melville sobre um mundo que estava em plena revolução: “buscando conquistar uma
liberdade maior, o homem apenas amplia o império da necessidade”. Enfim, apoiado em intensa e rigorosa
pesquisa, Greg Grandin reconstrói minuciosamente um cotidiano que vai muito
além dos estereótipos e do senso comum sobre a escravidão.
O livro também mostra uma geração
de homens do mar que estavam informalmente colonizando as ilhas da América do
Sul. Greg, autor do best-seller Fordlândia, já publicado no Brasil pela Editora
Rocco, também escreveu The Last colonial massacre, Blood of Guatemala e
Empire´s Workshop, além de colaborar regularmente com os jornais Los Angeles
Times, The Nation, The New Statesman e The New York Times.