29
de setembro de 2014 | N° 17937
ARTIGOS
- PAULO BROSSARD*
O DEBATE QUE NÃO
HOUVE
Poucos
dias nos separam da eleição presidencial e três são os candidatos possíveis de
serem eleitos. Contudo, até agora não ouvi uma voz a respeito da eleição e dos
que a ela concorrem, seus atributos, merecimentos ou deficiências, enfim de
suas credenciais, como se fosse irrelevante a escolha do primeiro e maior de
seus condutores, pelo menos dos que detêm em suas mãos a maior soma de poderes
públicos durante certo tempo; nem é por acaso ser denominado de primeiro
magistrado do país e simultaneamente chefe do Estado e da nação, quando na
maioria dos Estados são distintas umas das outras as atribuições, bem como seus
titulares; por motivos semelhantes, também se diz do presidente ser um ditador
por tempo certo, sem falar na ampla irresponsabilidade a ele imanente.
Pois
bem, trata-se aqui e agora da escolha do presidente da República e dos
governadores, como se nada significasse a incumbência. Parece que não haverá ou
já houve a eleição; uma eleição às escuras. Dir-se-á a ocorrência de fato novo
e relevante, o avanço sem precedente da corrupção, que poderia haver amortecido
a sensibilidade nacional.
Ao
que me parece, a lepra da corrupção se fez sentir em todos os níveis e graus, e
talvez o silêncio tenha sido o emudecido e encabulado comentário. Enfim, é
surpreendente mas imperioso se note que a senhora presidente, aliás, candidata
à reeleição, não hesitou em defender como solução o debate com os fanáticos,
quando o mundo inteiro, sem reserva, afirma sua decisão de enfrentá- los
frontalmente.
É
tempo de mudar e noto que hoje o debate eleitoral foi substituído, mas
substituído pela ação do marqueteiro, que se serve de sucessivas “pesquisas de
opinião” para operar. Estas que se sucedem dia a dia e mais de uma vez por dia
indicariam ou pretendem que indiquem as reais tendências do eleitorado, quando,
salvo erro meu, este efetivamente é o orientado, enquanto sua orientação
depende do marqueteiro.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF