19
de setembro de 2014 | N° 17927
MOISÉS
MENDES
Pobre Eike
Sant’Ana
retornou à Redação na quarta-feira. Circulou, comeu pão de queijo, examinou o
ambiente e fez a readaptação, como um astronauta depois da quarentena.
Está
muito bem o Sant’Ana. Vocês poderão conferir a partir de amanhã, quando ele
volta a publicar aqui no seu espaço.
Saúdo
o retorno de Pablo e me recolho à condição de arrendatário. Volto a frequentar
a coluna às terças e sextas. E no domingo estarei de novo na página de artigos,
ao lado de Flávio Tavares.
Em
2008, Eike Batista disse que em cinco anos seria o homem mais rico do mundo.
Disse assim, como quem anuncia numa roda de fogo de chão que terá o maior
galpão do Acampamento Farroupilha.
Eike
está quebrado e não vale nada, nem como imagem de um romântico que arriscou a
fortuna e a reputação num projeto inovador. Ele só queria ser milionário. Hoje,
vale R$ 1,99.
Fazia
mineração, fuçava no chão. O mais rico empresário brasileiro era um tatu do
começo do século 20 bajulado por meio mundo.
Quando
decidiu que poderia se arriscar em outras áreas, como a exploração de petróleo,
projetou o salto. Sua fortuna seria maior do que a do mexicano Carlos Slim e
dos americanos Warren Buffett e Bill Gates. Quase tudo o que lhe daria fama
viria do solo. Teria um hotel aqui, uma marina lá, mas seu negócio era fuçar no
chão.
Em
2008, sua fortuna pessoal chegou a US$ 16 bilhões. Nesta semana, ele disse que
seu patrimônio é negativo em R$ 1 bilhão e que só tem dinheiro para a
manutenção da casa.
E
dizer que em algum momento Eike foi considerado um modelo. A revista Veja o
classificou como símbolo do novo capitalista brasileiro, sem nenhuma vergonha
de mostrar o dinheiro que tinha.
Eike
hipnotizou investidores estrangeiros e recebeu dinheiro grosso do BNDES e da
Caixa, até descobrir que seus poços de petróleo tinham apenas alguns baldes de
óleo.
O
problema de Eike era exatamente o que ele considerava sua virtude. Achava que
tinha tudo porque tinha dinheiro. Não teve uma ideia original, um lance
surpreendente, um produto com alguma inovação. Tinha apenas o mapa das minas.
Quebrou e levou junto os que acreditaram na sua ilusão garimpeira.
Agora,
vem a parte mais interessante. Numa entrevista à Folha de S. Paulo, nesta
semana, Eike se queixou de que a Justiça tenta bloquear seus bens que sobraram
e disse: “Nasci na classe média, e você voltar para isso é, sabe, um baque
gigantesco na família”.
Você
tem um parente, um vizinho, um amigo, um conhecido que comemora o fato de ter
chegado à classe média. Eike lamenta que tenha voltado a ela. É um baque.
É
ruim tripudiar sobre a situação de um empresário quebrado. Mas por que Eike, que
explorava minérios, deveria ser o modelo de empresário brasileiro? Que modelo
era esse sustentado pela exploração de buracos, como se o Brasil comemorasse o
descobrimento do vapor?
Eike
é uma das farsas brasileiras. Não teve uma ideia instigante e alardeava a
própria fortuna como seu trunfo. Pode ter fracassado porque subestimou as
recomendações de Enéas Carneiro para que investisse tudo em minas de nióbio.