HELOISA
BRENHA DE SÃO PAULO
Com água de reúso, Grande SP teria
mais 2 Cantareiras
Técnica
que 'recicla' esgoto pode ser usada para abastecimento, diz especialista
Professor
afirma que uso de medida em cinco estações de esgoto na Grande SP poderia gerar
água para 4,8 milhões
Na
Grande São Paulo, um estoque de água equivalente a dois sistemas Cantareira,
capaz de sanar a crise de abastecimento, é ignorado.
Essa
é a visão do professor de engenharia hidráulica da USP Ivanildo Hespanhol sobre
os cerca de 60 mil litros de esgoto que calcula serem produzidos na região
metropolitana a cada segundo.
Uma
das maiores autoridades do país em reúso, ele defende que a técnica seja usada
para "reciclar" a água, tornando-a própria. Compartilham dessa
perspectiva especialistas como a relatora da ONU para a questão da água,
Catarina de Albuquerque, para quem é preciso "olhar o esgoto como
recurso".
No
Brasil, a água de reúso não é usada para beber, mas para processos como limpeza
de calçadas, irrigação de jardins e na produção industrial.
Ainda
falta regulamentar seu emprego no abastecimento, como em cidades inteiras de
países como EUA, Austrália e Bélgica --muitas delas misturando a água de reúso
com a convencional.
"Temos
cinco estações que tratam esgoto em nível inicial. Poderíamos completar o
tratamento incluindo mais etapas, capazes de tornar a água potável", diz o
professor, que comanda o Cirra (Centro Internacional de Referência em Reúso de
Água), da USP.
Ele
afirma que só nessas cinco estações, seria possível obter mais 16 mil litros de
água potável por segundo para a Grande São Paulo, o suficiente para abastecer
cerca de 4,8 milhões de pessoas.
Segundo
o professor, não há estimativas dos custos para implantar o reúso potável na
região metropolitana, mas cerca de 2/3 dos gastos referem-se à rede
distribuidora ""que já existe e poderia incorporar a água
"reciclada".
Ele
diz que o custo de produção é mais alto --nos EUA, mil litros de água de reúso
potável saem por cerca de US$ 3, mais que o triplo da comum--mas compensa se
comparado à construção de sistemas de abastecimento.
Para
efeito de comparação, o sistema São Lourenço, uma obra de R$ 2,2 bilhões, que
trará água de uma represa a quase 100
km da capital, produzirá 4.700 l/s a partir de 2017.
"A
tecnologia do reúso já é avançada o suficiente para produzir água limpa e
segura para beber. Há parâmetros para controlar sua qualidade, que pode superar
a da água captada dos rios", diz.
Ele
cita o caso da represa Billings (zona sul), de onde são retirados 4.000 litros de água por segundo
para abastecer a Grande São Paulo --o suficiente para atender cerca de 1,2
milhão de pessoas.
"A
Billings recebe esgoto de uma sequência de rios muito poluídos: Tamanduateí,
Tietê e Pinheiros. E sua água já é captada para abastecimento", afirma.
A
Sabesp tem gastos altos para preservar a represa e monitorar a qualidade de sua
água. Segundo seu último relatório de sustentabilidade, em 2013, foram R$ 48,4
milhões em um programa envolvendo a Billings e sua vizinha Guarapiranga --onde
até há remoção de plantas e lixo.
Segundo
Hespanhol, a poluição de cursos d'água pode encarecer o tratamento convencional
e gerar um "reúso inconsciente e não planejado" em diversas regiões
do país.