24 de setembro de 2014 | N° 17932
MARTHA MEDEIROS
George
Há muitos e muitos anos, em um reino distante, eu fiquei com
um garoto chamado George, assim mesmo, com G, mesmo ele sendo do bairro
Auxiliadora. Foi o mais perto que cheguei de um americano, ainda que
falsificado. Nunca mais nenhum George habitaria minha realidade – em
compensação, um deles fixou residência em minhas fantasias.
Eu não costumava assistir ao seriado Plantão Médico, então
fica difícil dizer em que momento George Clooney entrou na minha vida, só sei que
foi pela porta dos fundos e se instalou no sótão do meu imaginário. Não vi
tantos filmes dele como gostaria. Aliás, nunca o considerei fabuloso como ator.
Se dependesse de mim, ele tomando Nespresso já seria suficiente para levar um
Oscar.
O que, afinal, fez de George Clooney o Clark Gable da nossa
geração? O rostinho bonito ajudou, sem dúvida, mas é hora de darmos o devido
valor a um atributo mais importante do que beleza: carisma. Sem carisma, você
até faz filmes, fotos e publicidade, mas não faz história.
George Clooney virou um ícone porque parece ter nascido com
mais de 30 anos e já com alguns fios prateados no cabelo – não passou pela
desengonçada e petulante adolescência, ou passou tão discretamente que ninguém
viu. Jamais foi capa da Capricho. Se foi, não me contem, não estraguem este meu
obituário.
Maduro, sim, mas nada emburrado. Inteligente, divertido e
independente, nunca foi de levar Hollywood muito a sério. Gosta de trabalhar
com os amigos (ele, Matt Damon e Brad Pitt não se desgrudam), de se aventurar
como diretor e produtor (sem fazer feio), de ser ativista em causas
humanitárias e sempre que pode se refugia em sua residência às margens do lago
de Como, e não numa cobertura em Los Angeles, o que diz muito sobre seu
refinamento. A única coisa que me parecia cafona em seu histórico era aquela
insistência em se manter solteirão.
Um homem precisa se garantir, mesmo diante de um desafio
intimidador.
Feito, George. Você já era chique, agora é perfeito. Aos 53
anos, escolheu uma linda e discreta advogada libanesa com o seu mesmo
coeficiente de classe. Se serão felizes para sempre é um assunto que não nos
diz respeito e talvez nem a vocês – coisa mais antiga assinar compromisso com a
eternidade. O que importa é que a partir de sábado você deixará de vez a turma
mal-afamada dos galinhas.
Eu falei obituário alguns parágrafos atrás? Agora é que
percebi. Ato falho. George Clooney não morreu, está apenas casando, o que não
muda nada no universo das fantasias femininas, onde todos entram sem aliança.
Mas, para quem não se conforma e acredita em milagres, não
custa rezar. Ainda faltam três dias.